SÃO PAULO (Reuters) - Veja um resumo dos principais filmes que estreiam nos cinemas do país nesta quinta-feira:
"STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI"
- Como todo episódio do meio em uma trilogia, “Star Wars: Os últimos Jedi” serve mais para conduzir uma história maior do que para resolver em si a trama. Não que o filme escrito e dirigido por Rian Johnson não tenha começo e fim. Mas, no final das contas, apenas cumpre o papel obrigatório de um segundo filme numa trilogia, ou seja, tentar manter o interesse até o capítulo realmente conclusivo.
Isso não quer dizer que o longa seja ruim – longe disso. Mas é, novamente, a mesma história de sempre reciclada e com roupagem, efeitos e elenco novos. Rey (Daisy Ridley) pede para que o bom e velho Luke Skywalker (Mark Hamil), que estava vivendo numa ilha isolada, a treine como Jedi. Enquanto isso, Leia (Carrie Fisher) tenta acender “uma fagulha de esperança” no universo dominado por forças do mal.
“Os últimos Jedi” é sobre o embate entre tradição e modernidade, sobre o novo substituindo o veterano. O mais interessante é como esses conflitos estão no próprio filme. Toda vez que o diretor Johnson tenta levar seu longa para um lugar diferente, uma certa Força o traz de volta para a mitologia de “Star Wars” – essa é a maior qualidade do episódio, mas também sua grande falha. Mas os fãs fanáticos da franquia não devem mesmo se importar.
"CORAGEM! AS MUITAS VIDAS DE D. PAULO EVARISTO ARNS"
- Dirigido pelo jornalista Ricardo Carvalho, o documentário “Coragem! As muitas vidas de D. Paulo Evaristo Arns” tem farto material para narrar. Utilizando-se de entrevistas com o próprio cardeal-arcebispo de São Paulo – cargo que ele ocupou entre 1970 e 1998 -, o filme relembra a atuação política do religioso, falecido em 2016, aos 95 anos.
Não faltam episódios marcantes, como suas visitas-surpresa a presídios, em busca de notícias sobre prisioneiros ou desaparecidos, ou à sede do DEOPS – o Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo – onde, quando não era recebido pelo comandante da vez, ficava rezando o terço na calçada. Ou suas denúncias dos crimes da ditadura militar no jornal da Arquidiocese, “O São Paulo”, mandando colar seus exemplares nas portas de igrejas. Ou quando foi o primeiro a denunciar que o jornalista Vladimir Herzog não havia se suicidado na prisão, como afirmaram as autoridades, mas sim sido morto.
O filme ressalta igualmente como ele uniu forças ao reverendo presbiteriano Jaime Wright (que morreu em 1999) e ao rabino Henry Sobel na luta contra a tortura e a repressão política. Os três, aliás, lideraram um culto ecumênico por Herzog, na Catedral da Sé, em 1975, que se tornou um marco na luta pela redemocratização do País. Por isso e muito mais, ele mesmo tinha um dossiê no DEOPS que se avolumava em 46 fichas.
"MULHERES DIVINAS"
- Escolhido pela Suíça para representá-la na disputa por uma vaga no Oscar de filme estrangeiro, “Mulheres Divinas” traz como protagonista uma personagem fictícia liderando um grupo de mulheres na luta pelo sufrágio feminino naquele país, em 1971.
Nora (Marie Leuenberger) é uma dona-de-casa que se cansa de ver injustiças contra ela e outras mulheres e, aos poucos, envolve-se com o movimento feminista. Neste processo, desperta não só a própria consciência mas também a de um grupo de conhecidas, até culminar numa greve para que seus maridos votem a favor do sufrágio feminino num referendo.
Escrito e dirigido por Petra Volpe, o filme consegue, apesar dos clichês e sentimentalismos, tocar num tema do passado e reverberar no presente. A luta pela igualdade de voto, como mostra o longa, foi vencida, mas existem outras injustiças que persistem até hoje e precisam ser resolvidas, lembradas com seus questionamentos.
"O PODER E O IMPOSSÍVEL"
- Eric LeMarque (Josh Hartnett) tinha tudo para desenvolver uma grande carreira como jogador de hóquei, mas seu temperamento e o vício em drogas acabaram com suas chances. Pior ainda quando, durante uma nevasca, em fevereiro de 2004, ele se perde nas montanhas da Serra Nevada e fica sem comida, água, comunicação.
Baseado numa história real, e dirigido por Scott Waugh, tal qual seu protagonista, o filme desperdiça seu potencial especialmente por não saber como narrar a luta de LeMarque por sua sobrevivência em condições extremas. Assim, acumulam-se cenas do protagonista andando perdido na neve e gritando desesperado, alternadas com flashbacks mal dirigidos e momentos de sua mãe (Mira Sorvino) tentando encontrá-lo.
Hartnett é bom ator, mas ninguém seria capaz de salvar o personagem de um filme tão equivocado. O problema é Waugh, que não é bom diretor, além de incapaz de compreender as transformações de seu protagonista numa jornada que o levou tão perto da morte.
"LUMIÈRE! A AVENTURA COMEÇA"
- Diretor do Instituto Lumière, em Lyon – e também do Festival de Cannes -, Thierry Frémaux aproveita o processo atualmente em curso de restauração dos 1422 filmes realizados por Louis Lumière e seus operadores para reunir, neste documentário, 108 deles, realizados entre 1895 e 1905. Sua análise do material comprova que a invenção de Lumière foi muito além do cinematógrafo – reconhecendo, é claro, que ele aproveitou os progressos anteriores de diversos inventores, acrescentando a dimensão pública que lhes faltava.
Através de uma narração minuciosa, Frémaux observa que Lumière criou também o remake, já a partir do filme inaugural do cinema, de 1895, retratando a saída dos operários da fábrica de sua família, em Lyon (onde funciona hoje o instituto). Tanto que este filme foi refeito pelo menos outras duas vezes, demonstrando a consciência de seu realizador sobre a composição dos planos, o lugar de colocação ideal da câmera para contar algo em 50 segundos (a duração destes primeiros filmes) e o conceito de encenação.
Isto foi feito não apenas em relação a estes pequenos documentários – afinal, Lumière criou também a ficção, em filmes como o famoso “O Regador Regado”, que mostra um jardineiro atormentado por um menino que trava o funcionamento de sua mangueira – igualmente um filme refeito e aperfeiçoado em novas versões.
O primeiro personagem do cinema foi, portanto, o povo – os operários da fábrica, como depois os nadadores do rio Saône, em Lyon. Mas também a intimidade familiar dos Lumière foi captada, com retratos intimistas do cotidiano das crianças, mostrando os primeiros passos de um bebê, crianças dançando, uma menina e um gato.
(Por Neusa Barbosa e Alysson Oliveira, do Cineweb)
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