SÃO PAULO (Reuters) - “Apesar do excelente trabalho que Batman faz por nós, Gotham é ainda a cidade mais violenta do mundo”, diz a nova comissária de polícia da cidade, Barbara Gordon. É um comentário até óbvio, mas que não caberia em nenhum filme “sério” protagonizado pelo homem-morcego, simplesmente porque acabaria com a magia, escancarando um paradoxo.
Mas, em se tratando da animação “LEGO Batman: O Filme”, é só mais uma das ótimas sacadas da animação dirigida por Chris McKay, que tem em seu currículo séries como “Frango Robô”.
Obviamente, o alvo da sátira é Batman e os longas e programas de televisão que o trazem como protagonista. Longe de ter uma personalidade carismática, aqui ele é mostrado como um sujeito egocêntrico e um tanto egoísta, avesso a qualquer tipo de relacionamento.
Quando não está nas ruas combatendo o crime, está na Batcaverna, numa ilha, contando apenas com a companhia do seu mordomo. O que, finalmente, acaba frustrando-o é que a comissária Barbara não quer mais o protagonista sozinho defendendo as ruas de Gotham, mas uma operação conjunta, entre ele e a polícia.
A incapacidade do herói de enxergar além de si mesmo e de criar laços com alguém preocupa até ao Coringa, que acreditava que “existia algo de especial entre eles”. Por isso, o vilão arquiteta um plano que obriga Batman não apenas a confrontá-lo, mas também encarar seus próprios demônios internos.
Acidentalmente, Batman, em sua identidade de Bruce Wayne, adota um órfão de olhos grandes e hiperativo, que acabará se transformando em Robin - só porque Batman acredita que o garoto possa ser descartado ou ser usado como isca quando necessário.
“LEGO Batman” estabelece um diálogo tanto com o público infantil – especialmente por suas cores, sons e ritmo frenético – tanto quanto com o adulto –, com suas referências a filmes e séries, e até uma prisão metafísica numa nuvem que remete a Guantánamo, a Zona Fantasma, que guarda vilões de alta periculosidade, como os Gremlins, Sauron e King Kong.
Apesar de feita digitalmente, a animação remete aos bloquinhos do LEGO, mas também incorpora feições faciais aos personagens – que são mais expressivos do que muitos atores de carne-e-osso, incluindo Ben Affleck, o mais recente intérprete de Batman. Sem poupar na mira, de “Esquadrão Suicida” a impostos de Trump, o longa faz um humor levemente escrachado, satirizando o nosso presente e a cultura pop.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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