SÃO PAULO (Reuters) - Diretor teatral com alguma estrada como ator, o australiano Simon Stone estreia como diretor de longas com o drama “A Filha”. Com elenco recheado de atores australianos consagrados internacionalmente, como Geoffrey Rush, Miranda Otto e Sam Neill, o filme incorpora um verniz intelectual sofisticado com um roteiro que tem como ponto de partida a peça “O Pato Selvagem”, de Henrik Ibsen.
Neste roteiro, também assinado pelo diretor Stone, foram tomadas muitas liberdades, como trazer o enredo do século 19 para a época atual e trocar os nomes de praticamente todos os personagens. A trama também foi consideravelmente recriada para construir um drama em torno da adolescente Hedvig (Odessa Young).
Filha única do casal Oliver (Ewen Leslie) e Charlotte Finch (Miranda Otto), a garota é corajosa e desinibida. Nada sugere grandes dilemas em sua vida, cuja maior preocupação no momento é a descoberta do sexo com seu namorado, Adam (Wilson Moore).
Dois fatos ligados à família Neilson, a mais rica do local onde vivem a garota e seus pais, alteram drasticamente o panorama. O primeiro, a decisão do magnata Henry (Geoffrey Rush) de fechar a madeireira local, desempregando o pai da menina e muitos outros trabalhadores da região. O outro, a chegada do filho de Henry, Christian (Paul Schneider), que vem para o casamento do pai viúvo com uma ex-funcionária bem mais jovem, Anna (Anna Torv).
Os problemas íntimos de Christian em relação a este pai, de quem se manteve afastado por anos desde a morte da mãe, acabam tornando-se o epicentro de um verdadeiro terremoto emocional, cujas ondas afetam drasticamente a família Finch.
Vários destes excelentes atores, quase todos australianos, atuaram também na versão teatral da história, sob o comando de Stone, contribuindo para uma segurança de atuação que é um ponto forte do filme.
Em compensação, não é tão consistente a adaptação em alguns pontos, talvez o maior deles a composição do personagem de Christian, insuficientemente delineado na trama em comparação ao poder que lhe é atribuído na condução de tantos fios narrativos.
Ainda assim, impressiona a desenvoltura da jovem Odessa Young, com apenas 16 anos, que com justiça recebeu prêmio na Academia Australiana de Cinema e TV como melhor atriz, ao lado de Miranda Otto, vencedora como melhor coadjuvante.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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