SÃO PAULO (Reuters) - Há em “Ninguém Entra, ninguém Sai”, conforme divulgado pelo pôster e créditos do filme, uma inspiração (leve) na crônica “No Motel”, de Luis Fernando Verissimo. O original é curto, composto de algumas falas de pessoas numa situação inusitada: uma quarentena num estabelecimento destes.
“Quarenta minutos de atraso para chegar em casa a gente explica, quatro horas a gente explica... Mas quarenta dias?!”, comenta o cronista gaúcho no texto. O longa é apenas mais um atestado à genialidade do escritor, que não tem nenhuma responsabilidade pelo filme. A concisão de seu texto é do tamanho certo para essa história. Esticá-la num filme mostrou-se puro desperdício.
Ainda assim, o diretor Hsu Chien e o roteirista Paulo Halm insistiram, e o resultado é uma comédia pudica e pífia, que não é capaz de tirar proveito nem da libertinagem que, a priori, permitiria o cenário.
A trama se passa num motel, mas poderia ser num supermercado ou numa igreja. O ponto de partida é um suposto vírus que contaminou um funcionário do local (Paulinho Serra), e isso faz com que as pessoas que estão lá dentro não possam sair, com risco de infectar a população do lado de fora.
O incidente poderia render um material divertido e inusitado, mas Chien e Halm se contentam com uma comicidade do nível de humorístico ruim de televisão. Letícia (Danielle Winits) é uma juíza sadomasoquista que está lá com seu segurança (Tatsu Carvalho) e fica batendo nele com um chicote. Num outro quarto, estão seu filho adolescente e a namorada dele (João Côrtes e Bella Piero). Suellen (Letícia Lima), funcionária do tribunal, também está no estabelecimento com o motoboy Edu (Emiliano d’Avila), querendo arrancar um pedido de casamento dele.
Margot (Mariana Santos) é recatada e virgem, acaba refém de um assaltante, Alexandre (Rafael Infante), e os dois se escondem no motel para fugir de uma blitz da polícia. Há outros hóspedes, interpretados por atores como Gabriel Totoro e Antonio Pedro – que mal são apresentados, porém, pelo que se depreende, são casados com mulheres, parecendo machões, mas gays entre as quatro paredes de um motel.
Afora os hóspedes, há duas funcionárias também impedidas de sair: a recepcionista (Renata Castro Barbosa) e uma faxineira fanática religiosa (Guta Stresser), que com sua gritaria exagerada em pouco tempo se torna a personagem mais irritante num filme no qual nenhum personagem deixa de sê-lo.
Até bons atores de comédia não se encontram aqui. Letícia Lima faz a enésima versão de um tipo de personagem que ela encarnou à exaustão no “Porta dos Fundos”: a periguete. E ela já fez isso muito bem, basta lembrar de uma “Maria-chuteira”, do esquete “Macedo”, de 2013.
Talvez o grande problema de “Ninguém Entra, Ninguém Sai” seja sua intenção de aspirar a ser “um filme para toda a família”. Assim, torna-se ingênuo e perde a oportunidade de usar o cenário como alavanca para um humor mais adulto. Falta, no fundo, perceber que a crônica de Verissimo é tão boa, tão redonda, que não deixa espaço para ser esticada. E o resultado é uma piada longa que perdeu a graça há muito tempo.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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