SÃO PAULO (Reuters) - Um necrotério é, ao menos no cinema, por natureza, um ambiente propício a cenário de filmes de terror. É pouco provável, porém, que na vida real sejam mal iluminados, meio sujos e com geladeiras mortuárias com portas que não fecham direito, mesas que rangem ou qualquer outro elemento propício a causar sustos e assombros. O diretor norueguês André Øvredal vale-se de vários desses clichês em seu “A Autópsia”.
Ainda assim (ou talvez por isso mesmo), constrói um suspense eficiente e claustrofóbico, protagonizado por um pai e filho responsáveis por investigar a causa da morte de uma jovem não-identificada.
O filme se passa numa pequena cidade do interior da Virgínia, o que parece abrir as portas para o gótico americano dar o tom. A trama acontece em poucas horas de uma noite de tempestade forte, quando o xerife local (Michael McElhatton) chega ao necrotério comandado pelo médico Tommy (Brian Cox) e seu filho Austin (Emile Hirsch) com o cadáver de uma garota (Olwen Kelly, que passa o filme completamente imóvel e aterrorizante apenas com o olhar), encontrado meio enterrado num subúrbio onde ocorreu um massacre.
Tommy e Austin já tinham encerrado o expediente, mas o policial insiste, pois, no dia seguinte, a imprensa cobrará respostas. A dupla não tem outra opção senão realizar a autópsia. Esta começa de forma técnica, com procedimentos seguindo o protocolo, com fotos sendo tiradas do corpo e partes dele observadas, antes que comece a ser cortado.
Quando finalmente a investigação começa, Tommy nota algumas coisas estranhas, como a ausência de qualquer ferimento na pele. Nem rigor mortis o corpo apresenta e as íris mostram-se estranhamente claras.
Escrito por Ian Goldberg e Richard Naing, “A Autópsia” começa como um suspense eficiente sobre os horrores que essa moça sofreu – e como lhe foram inflingidos – até a sua morte. A cada novo corte, uma nova descoberta em suas entranhas. Cada uma mais absurda e improvável do que a outra, o que só aumenta a curiosidade para a resolução.
“A Autópsia” é o tipo de filme sobre o qual não se deve falar muito porque isso tiraria o prazer da descoberta incrédula junto com a dupla que realiza o procedimento. A resolução está ligada a uma dívida histórica e opressão feminina, e é, talvez, um tanto frustrante na maneira em que se apresenta, mas completamente coerente dentro da narrativa. De qualquer forma, com seu peculiar bom humor, o escritor Stephen King elogiou o filme no Twitter, chamando-o de “visceral”. Melhor trocadilho não existe para o definir.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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