SÃO PAULO (Reuters) - Filmada quase inteiramente em Ouro Preto (MG), a coprodução entre Brasil e Alemanha “Filhos de Bach”, de Ansgar Ahlers, inspira-se numa série de histórias reais para compor seu enredo, em torno de um músico e maestro alemão, Marten Brückling (Edgar Selge), que conduz uma experiência renovadora com meninos abandonados de uma instituição na cidade mineira.
Escrito em parceria entre Ahlers e Soern Finn Menning, o roteiro é uma coleção de soluções mágicas e bom-mocismo. A ideia é mostrar choques culturais mas, quase sempre, os clichês entram muito no caminho. A ação começa quando Marten tem que vir da Alemanha para o Brasil, onde morreu um grande amigo e ex-parceiro musical que lhe deixou uma herança: uma partitura original de ninguém menos do que Johann Sebastian Bach.
Uma vez em Ouro Preto, Marten toma posse da preciosa partitura, em que ele enxerga um modo de participar com destaque num festival alemão em homenagem a Bach, junto com sua colega --e interesse romântico--, Marianne (Fransizka Walser). Mas ele é roubado por dois garotos e somem não só sua partitura como seu precioso bombardino, o instrumento que ele toca.
O músico é ajudado por Cândido (Aldri Anunciação), rapaz que, por incrível que pareça, fala alemão --teria sido criado por uma família de alemães. Simpático e prestativo, o jovem hospeda Marten em sua casa e se dispõe a ajudá-lo a recuperar seus objetos perdidos --“Cândido acha tudo”, é o seu mote.
Cândido, aliás, é funcionário no Centro Socioeducativo da cidade, uma instituição que abriga menores órfãos, abandonados ou infratores. E lá, não por acaso, estão os garotos que roubaram Marten, os irmãos Fernando (Pablo Vinicius) e Heitor (Dhonata Augusto).
Por força das manobras diplomáticas de Cândido, ele convence o maestro a dar aulas de música a alguns garotos, a princípio escondido da direção do lugar. Descobertos pela caricaturesca vigia da rapaziada, Dulce (Thais Garayp), no entanto, eles são apadrinhados pelo diretor, Vargas (Stepan Nercessian).
De coincidência em coincidência --como o apoio de uma ministra da Justiça (Marília Gabriela) ao projeto da orquestra infantil--, o filme progride em ritmo de fábula. Tem qualidade técnica na fotografia e no som e também bons momentos, porque é difícil não torcer por uma causa tão politicamente correta.
Mas falta-lhe uma sofisticação maior na elaboração dos personagens e situações, o que leva a uma certa pasteurização adocicada de contexto social, o que pode ser resultado também da inexperiência do diretor de primeira viagem em longas.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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