Por Roberta Rampton e Patricia Zengerle
CLEVELAND/WASHINGTON (Reuters) - A Casa Branca criticou nesta quarta-feira o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, logo após ele ter conquistado a reeleição, por ele ter abandonado seu compromisso de negociar a criação de um Estado palestino, assim como por ter se valido de uma retórica de campanha "divisora" em relação à minoria de eleitores árabes de Israel.
Ainda que o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, tenha felicitado Netanyahu pela decisiva vitória de seu partido no pleito de terça-feira, a Casa Branca sinalizou a continuidade de sua profunda discordância – e espinhosa relação – com Netanyahu sobre questões que vão do processo de paz no Oriente Médio às negociações nucleares com o Irã.
Em uma brusca virada à direita em seus últimos dias de campanha, Netanyahu voltou atrás sobre seu apoio a uma eventual criação de um Estado palestino – questão central de mais de duas décadas de esforços de paz – e prometeu levar adiante a construção de assentamentos judeus em território ocupado.
Tais políticas podem colocar o premiê israelense em uma nova rota de colisão com o governo de Obama.
O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, reafirmou nesta quarta-feira o compromisso de Obama com uma solução de dois Estados para o conflito no Oriente Médio, e disse, com base nos comentários de Netanyahu, que "os Estados Unidos vão avaliar a abordagem em relação ao avanço dessa situação".
A insistência de Netanyahu em afirmar que não haverá Estado palestino enquanto ele estiver no poder, vista como uma manobra para mobilizar o eleitorado de direita em um momento no qual seus prospectos de reeleição se mostravam ameaçados, irritou os palestinos e provocou críticas por parte da ONU e de países europeus.
PROFUNDAS PREOCUPAÇÕES
Falando com jornalistas a bordo do avião presidencial dos EUA, Earnest disse que o governo norte-americano iria comunicar diretamente ao governo israelense sua preocupação sobre a retórica usada por Netanyahu durante a campanha.
No dia da eleição, Netanyahu acusou esquerdistas de tentarem conduzir eleitores árabes israelenses "em levas" até as urnas, com o objetivo de influenciar a eleição contra ele. "Os Estados Unidos e seu governo estão profundamente preocupados com uma retórica que busca marginalizar cidadãos árabes israelenses", disse Earnest.
Os árabes correspondem a cerca de 20 por cento da população israelense de oito milhões de pessoas, e as queixas sobre a discriminação são antigas. O grupo emergiu da eleição tendo seu partido como a terceira maior bancada.
Earnest previu que a reeleição de Netanyahu não terá nenhum "impacto material" sobre as sensíveis negociações sobre o programa nuclear do Irã.
O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ligou para Netanyahu nesta quarta-feira para parabenizá-lo pela vitória, ato que será repetido por Obama "nos próximos dias", disse Earnest.
(Reportagem adicional de Julia Edwards e Jeff Mason em Washington)