Por Yara Bayoumy e Brian Love
WASHINGTON/PARIS (Reuters) - Países europeus se empenhavam nesta quarta-feira em tentar salvar o acordo nuclear internacional com o Irã depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou seu país do pacto histórico, e Teerã expressou desprezo pelo líder norte-americano.
"O acordo não está morto. Existe uma saída norte-americana do acordo, mas o acordo ainda está de pé", disse o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, que sempre foi relutante em seu apoio ao acordo e continuava desconfiado de Washington, acusou Trump de mentir, dizendo: "Senhor Trump, digo a você em nome do povo iraniano: você cometeu um erro".
O presidente da França, Emmanuel Macron, deve conversar mais tarde nesta quarta-feira com o presidente iraniano, Hassan Rouhani, informou Le Drian. Teerã também sinalizou sua disposição para conversar.
Trump anunciou na terça-feira que vai retomar sanções econômicas contra o Irã para minar o que classificou como "um acordo horrível e unilateral que nunca, nunca deveria ter sido feito".
O pacto de 2015, negociado pelos EUA, cinco potências mundiais e o Irã, suspendeu sanções impostas a Teerã em troca da limitação de seu programa nuclear. Fruto de mais de uma década de diplomacia, o entendimento foi concebido para impedir os iranianos de obterem uma bomba nuclear.
Trump criticou o acordo, a principal conquista de política externa de seu antecessor Barack Obama, pelo fato de não abordar a questão dos mísseis balísticos do Irã, suas atividades nucleares depois de 2025 e seu papel nos conflitos da Síria e do Iêmen.
A decisão eleva o risco de um aprofundamento nos conflitos no Oriente Médio, cria atrito entre os EUA e interesses diplomáticos e empresariais europeus e provoca incerteza a respeito dos suprimentos globais de petróleo. Os preços do petróleo subiram mais de 2 por cento nesta quarta-feira, e o Brent teve sua maior alta em três anos e meio.
A saída dos EUA ainda pode fortalecer a linha-dura do regime iraniano à custa dos reformistas de sua arena política.
Le Drian disse que o Irã está honrando seus compromissos com o pacto.
"A região merece mais do que uma nova desestabilização provocada pela retirada americana. Por isso queremos aderir a ele e levar o Irã a fazê-lo também, fazer com que o Irã se comporte com moderação", disse ele à rádio francesa RTL.
A União Europeia disse que continuará comprometida com o acordo e que fará com que as sanções impostas ao regime continuem suspensas contanto que Teerã cumpra seus compromissos.
(Por Steve Holland; Reportagem adicional de Tim Ahmann, Makini Brice, Warren Strobel, Jonathan Landay e Arshad Mohammed, Patricia Zengerle, David Lawder, Mohammad Zargham, em Washington; Ayenat Mersie, em Nova York; Sybille de La Hamaide, John Irish e Tim Hepher, em Paris; Parisa Hafezi, em Ancara; David Milliken e Bozorgmehr Sharafedin, em Londres; e Andrew Torchia, em Dubai)