Por Anton Zverev e Gleb Stolyarov
MOSCOU (Reuters) - Os paramédicos que trataram o político de oposição russo Alexei Navalny depois que ele adoeceu gravemente em um avião no mês passado não viram um aumento do açúcar em seu sangue em exames iniciais, nem encontraram sinais de um distúrbio metabólico, disseram à Reuters cinco fontes médicas que se pronunciaram pela primeira vez.
Seus relatos contradizem o diagnóstico público fornecido por médicos do Hospital de Emergências No. 1 de Omsk, onde ele foi tratado, que disseram que Navalny entrou em coma devido a um distúrbio metabólico e que o nível do açúcar em seu sangue estava quatro vezes acima do normal.
Três fontes a par do tratamento inicial prestado por quatro paramédicos a Navalny antes de ele ser retirado do avião e no aeroporto disseram que um teste de glicose mostrou que o açúcar em seu sangue estava entre 3 e 5 millimoles por litro --dentro dos limites normais.
"Não havia diabetes ali, tudo foi verificado de imediato e descartado", disse uma das fontes. "O indicador estava normal, não havia problema no metabolismo de carboidratos". A Reuters não verificou de forma independente os resultados dos exames administrados pelos paramédicos.
Duas outras fontes também cientes de seu tratamento no aeroporto disseram à Reuters que o açúcar no sangue de Navalny não estava anormal. Quatro das cinco fontes disseram que os paramédicos que viram Navalny observaram um quadro clínico de envenenamento, com sintomas como letargia, ao invés de qualquer indício de distúrbio metabólico.
"Foi indescritível. Navalny estava letárgico, em um estado de consciência confusa, não conseguia explicar nada", disse uma das fontes, que tomou conhecimento do tratamento no aeroporto.
A Alemanha, para onde Navalny foi levado para um tratamento adicional depois de dois dias sob cuidados em Omsk, disse que ele foi envenenado pela Rússia com o agente nervoso raro Novichok. Berlim exigiu uma explicação de Moscou em meio a clamores por sanções. Já o Kremlin disse que as acusações são "infundadas" e que não viu indícios de envenenamento.
Alexander Sabaev, toxicologista-chefe do Hospital de Emergências No. 1 de Omsk, refutou o relato dos paramédicos dizendo que a equipe da ambulância detectou 13 millimoles de açúcar por litro de sangue --bem acima do padrão.
"Parâmetros metabólicos só podem ser encontrados com análise bioquímica, o que só pode ser feito em um hospital."
A guerra de informações sobre o que aconteceu com Navalny tem implicações graves para as relações entre a Rússia e o Ocidente. A chanceler alemã, Angela Merkel, está sendo pressionada a interromper o Nord Stream 2, gasoduto quase finalizado que levará gás da Rússia para a Alemanha.
O Kremlin pediu à Alemanha que forneça indícios de envenenamento. Procuradores estaduais de Berlim anunciaram na sexta-feira que repassarão informação se Navalny, que está saindo do coma, concordar.
(Reportagem adicional de Maria Kiselyova e Rinat Sagdiev em Moscou e Andreas Rinke em Berlim)