Por Fabián Werner
MONTEVIDÉU (Reuters) - O ex-presidente uruguaio José Mujica, do partido de oposição Frente Ampla, renunciou ao Senado nesta terça-feira para evitar um possível contágio de Covid-19 e decidiu se aposentar da política partidária.
"Sinceramente, estou saindo porque a pandemia está me tirando", disse Mujica em seu último discurso, 26 anos depois de ter entrado no Parlamento pela primeira vez.
O ex-presidente explicou que, devido à idade avançada, faz parte da população de risco e, como sofre de uma doença autoimune, também não pode ser vacinado.
Mujica foi eleito presidente pela Frente Ampla em 2009, depois de ter sido deputado, senador e ministro, e governou entre 2010 e 2015.
O ex-líder de guerrilha adquiriu notoriedade internacional que o levou a ser protagonista de dezenas de livros e filmes, promovendo reformas jurídicas transformadoras como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a descriminalização do aborto e a regulamentação do mercado de maconha.
“Há uma hora de chegar e uma hora de partir na vida”, afirmou Mujica, destacando que “tem que haver uma atitude de dar oportunidade às novas gerações”.
Sua vaga será ocupada pelo atual deputado Alejandro Sánchez, de 40 anos.
Em uma sessão histórica do Congresso, o ex-presidente Julio María Sanguinetti, do Partido Colorado, também apresentou sua renúncia por conta da pandemia.
Rivais ferrenhos, Mujica, de 85 anos, e Sanguinetti, de 84, foram opostos do pensamento político desde o início. Mujica, como líder da guerrilha conhecida como Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, em meados da década de 1960. Sanguinetti, primeiro como deputado e depois ministro do Partido Colorado, partido que governou o país nos anos anteriores ao golpe de Estado (1973). Ele foi o primeiro presidente do país no retorno à democracia (1985-1990) e cumpriu um segundo mandato entre 1995 e 2000.