Por Lisandra Paraguassu
NOVA YORK (Reuters) - O discurso dos líderes latino-americanos que jantaram com o presidente norte-americano, Donald Trump, de que houve sintonia plena nas posições relacionadas à Venezuela não refletiu o teor das conversas, o que impediu a divulgação de um comunicado conjunto após o encontro, disse à Reuters nesta terça-feira uma fonte brasileira com conhecimento das conversas.
A intenção inicial do governo norte-americano, negociada com Brasil, Colômbia, Panamá --que enviaram seus presidentes para o encontro-- e Argentina --que teve como representante a vice-presidente-- era de que fosse feito um comunicado final do jantar na segunda-feira. A falta de ações práticas, no entanto, impediu que a mensagem fosse distribuída.
Durante o jantar, Trump afirmou que estava disposto a tomar medidas adicionais contra a Venezuela, e em outro momento chegou a ameaçar com intervenção militar no país. No entanto, de acordo com os presentes, durante o jantar os presidentes latino-americanos reforçaram a ideia de que "intervenções externas" não funcionariam na região.
Ao discutir sobre sanções contra o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, durante o jantar, um dos presentes levantou diretamente com Trump a questão da interrupção da importação, pelos EUA, de petróleo do país sul-americano. A exportação de petróleo representa hoje 95 por cento da economia do país latino-americano.
O presidente norte-americano afirmou que não poderia fazer isso, segundo a fonte.
A razão seria econômica. O governo dos EUA importou da Venezuela, em 2016, 796 mil barris-dia de petróleo cru e seus derivados, de um total de importações anuais de 3.680.227 barris-dia, de acordo com dados da Agência Americana de Informações sobre Energia, órgão do governamental. Em 2015, foram 827 mil barris-dia.
Um estudo da consultoria norte-americana PKVerleger LLC aponta que o galão de combustível nos Estados Unidos, hoje em 2,31 dólares, poderia subir em algumas semanas entre 25 e 30 centavos com o fim das importações da Venezuela, quarto maior exportador de petróleo para os Estados Unidos.
De acordo com uma outra fonte brasileira, em discussões anteriores --ainda no âmbito diplomático-- sobre sanções que poderiam realmente ser efetivas contra a Venezuela, países latino-americanos já haviam levantado essa possibilidade, de o governo dos EUA interromper as importações do óleo venezuelano.
Questionado pela Reuters, um funcionário da administração Trump contestou o relato de que o presidente havia descartado um embargo do petróleo. "Estamos procurando a maneira mais rápida e menos perturbadora de acabar com a crise na Venezuela, mas, em última análise, não pode descartar nenhuma opção", afirmou.
Uma outra fonte norte-americana disse que a interrupção das importações venezuelanas não está na frente das ideias em consideração, dado o potencial impacto sobre as empresas dos EUA e os consumidores, mas permanece entre as opções que estão à disposição de Trump. "Vamos continuar avaliando as coisas."
Ao impor sanções contra o governo de Nicolás Maduro, em julho e agosto deste ano, os EUA deixaram a importação de petróleo de fora. As sanções são jurídicas e financeiras, impondo bloqueio de bens e recursos de figuras proeminentes do governo venezuelano, inclusive do próprio Maduro.
Ao sair do jantar, o presidente Michel Temer confirmou que não haviam sido tomadas novas decisões sobre a Venezuela.
Na quarta-feira, os 12 países do chamado "Grupo de Lima" - Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru --reúnem-se em Nova York para discutir novamente a situação venezuelana e devem divulgar um comunicado.
(Reportagem adicional de Jeff Mason)