Por Adam Jourdan
XANGAI (Reuters) - Três dias depois de sua irmã e outras 35 pessoas terem morrido em um corre-corre na véspera do Réveillon, Wang Jianhua foi para a orla de Xangai tirar fotos e fazer medições do local, na esperança de descobrir por sua própria conta como a tragédia ocorreu.
Ele e outros parentes dos que morreram comemorando o Ano Novo na histórica região do Bund, na capital comercial da China, dizem que não receberam até agora qualquer resposta por parte das autoridades.
Em vez disso, as famílias estão sendo mantidas no escuro sobre as circunstâncias do acidente e até foram pressionadas a não expor queixas, especialmente aos meios de comunicação internacionais, disse Wang.
"Esta entrevista pode me trazer um monte de problemas. A pressão é imensa", disse Wang à Reuters.
O tumulto e uma resposta pesada das autoridades podem manchar a imagem de Xangai como a cidade mais cosmopolita e mais bem administrada da China, uma sede chamativa para empresas globais, com a ambição de se tornar um centro financeiro mundial até 2020.
As investigações policiais são geralmente realizadas com pouca ou nenhuma informação divulgada ao público, por isso não é raro os parentes estarem mal informados sobre os desdobramentos.
A irmã de Wang tinha 25 anos e se mudara recentemente para Xangai depois de se formar. Wang estava com um grupo de amigos no local.
Ele disse que só quer respostas diretas da polícia, das autoridades de saúde e do governo, mas, em vez disso, se sente perseguido.
"A polícia está me seguindo e alguns policiais foram até minhas residências temporárias para me buscar. Eu temo que, assim que me encontrarem, eles me ameacem e me impeçam de falar", disse.
Os telefonemas para a assessoria de imprensa da polícia de Xangai não foram atendidos.
Em uma cerimônia para lembrar os mortos no local da tragédia de terça-feira, parentes soluçando depositaram flores e fizeram uma cerimônia – acompanhados de representantes do governo que estão encarregados da situação e sob forte esquema de segurança.
Policiais em uniforme e à paisana tentaram manter os repórteres longe de parentes, que foram conduzidos através de um labirinto de barricadas para chegar ao local da cerimônia.
Mesmo os parentes que ficaram distantes da cerimônia disse estar sob supervisão.
"Havia pessoas designadas para estar conosco o tempo todo e eles têm desaconselhado que falemos à imprensa", disse à Reuters, por telefone, uma mulher que perdeu um parente. Ela não quis ser identificada.
Outra reclamação dos parentes é que os corpos dos mortos ainda não foram liberados para sepultamento.
"Vamos lutar até o fim pelos nossos mortos", disse Wang. "Temos de buscar a justiça, entender o que aconteceu e encontrar quem for culpado. Caso contrário, vamos desapontar esse grupo de espíritos dos mortos que ainda não puderam descansar."
O departamento de saúde Shanghai disse em um comunicado enviado por email à Reuters que foi difícil identificar todas as vítimas imediatamente, já que alguns dos feridos estavam inconscientes, e que havia contatado os parentes o mais rápido possível. O órgão afirmou que os corpos estão sendo tratados adequadamente.
(Reportagem adicional de John Ruwitch)