Por Ellen Wulfhorst e Daniel Wallis
FERGUSON, Estados Unidos (Reuters) - Tiros foram disparados e prédios foram incendiados na cidade de Ferguson, no Estado norte-americano do Missouri, após um júri ter decidido, na noite de segunda-feira, não indiciar um policial branco que matou a tiros um jovem negro desarmado em agosto, motivando uma nova onda de violência.
Voos foram restringidos e a polícia disparou gás lacrimogêneo à medida que os manifestantes tomaram as ruas de Ferguson, uma cidade nos arredores de St. Louis. Os manifestantes saquearam lojas e queimaram carros apesar dos apelos do presidente dos EUA, Barack Obama, para que eles se contivessem.
Protestos também foram realizados em Nova York, Chicago, Seattle, Los Angeles, Oakland e na capital Washington, em indignação com um caso que salientou as antigas tensões raciais não apenas em Ferguson, de maioria negra, mas também em todos os Estados Unidos.
"Assassinos, vocês não são nada além de assassinos", gritou uma mulher por um megafone em direção a oficiais de polícia que vestiam roupa de tropa de choque em Ferguson após o anúncio da decisão do júri. "Malditos assassinos."
Multidões enfurecidas se reuniram ao redor do departamento de polícia em Ferguson após o júri ter dito que não havia causa provável para acusar Darren Wilson de qualquer crime envolvendo a morte de Michael Brown, de 18 anos.
A família de Brown também pediu por calma.
A polícia de St Louis relatou pesada troca de tiros na segunda-feira na área próxima onde Brown foi morto a tiros em 9 de agosto. Janelas de lojas foram quebradas, e incêndios destruíram alguns edifícios, incluindo um salão de beleza e uma pizzaria na cidade.
A polícia disparou latas de gás lacrimogêneo e granadas de luz em resposta aos manifestantes, numa repetição dos distúrbios que irromperam em agosto como resultado imediato da morte de Brown.
Wilson poderia ser acusado desde homicídio culposo a assassinato em primeiro grau, e a família de Brown disse, por meio de advogados, estar "profundamente decepcionada" pelas conclusões do júri.
"Embora entendamos que muitos outros compartilhem nossa dor, pedimos que vocês canalizem sua frustração de maneira a promover uma mudança positiva", disse a família em um comunicado.
Advogados de Wilson, que tem evitado aparecer desde o incidente, disseram que ele estava seguindo os passos de seu treinamento e cumprindo a lei quando atirou em Brown.
"Reconhecemos que muitas pessoas vão querer contestar a decisão do júri. Nós encorajamos qualquer um que queira expressar uma opinião que o faça de maneira respeitável e pacífica", disseram em comunicado.
O presidente Barack Obama pediu que os manifestantes permanecessem pacíficos e para que a polícia evitasse violência. "Nós somos um país construído pela vigência da lei e então precisamos aceitar que esta decisão foi tomada por um júri", disse Obama em uma coletiva de imprensa televisionada.
"Sabemos que a situação em Ferguson trata de desafios mais amplos que ainda enfrentamos como nação. O fato permanece que, em muitas partes deste país, uma profunda desconfiança existe entre a polícia e as comunidades de cor."
O júri, composto de nove membros brancos e três negros, iniciou suas considerações no fim de agosto e ouviu provas que incluíam testemunhas convocadas pela promotoria assim como um especialista particular contratado pela família de Brown para analisar a cena da morte. Ao menos nove jurados precisavam concordar para prosseguir com as acusações.
Uma investigação federal está em andamento, e o secretário de Justiça dos EUA, Eric Holder, enfatizou em um comunicado que o investigadores do Departamento de Justiça ainda não haviam chegado a nenhuma conclusão.
(Reportagem adicional de David Bailey in Minneapolis, Carey Gillam em Kansas City, Fiona Ortiz em Chicago, Sascha Brodsky e Paul Thomasch em Nova York, Adrees Latif em Ferguson e Will Dunham em Washington)