PEQUIM/WASHINGTON (Reuters) - Na manhã de sexta-feira, o presidente chinês Xi Jinping passou pelo simbólico ponto alto de sua primeira visita de Estado aos Estados Unidos --uma cerimônia com salva de 21 tiros, ao lado do presidente Barack Obama do lado de fora da Casa Branca.
Para a maioria dos americanos, isso não passou de um acontecimento secundário: as principais redes de notícias estavam concentradas no quarto dia consecutivo de cobertura da histórica visita do Papa Francisco aos Estados Unidos.
A visita de Xi Jinping aos EUA --ao menos em termos de cobertura de imprensa-- foi fortemente ofuscada pelo popular pontífice, o que levantou dúvidas sobre o timing da viagem oficial e também contrastou de forma severa com a pomposa e completa cobertura dos passos de Xi na imprensa chinesa.
Fortemente controlada pelo estado, a mídia chinesa tem focado na pompa, nas cerimônias e nas demonstrações de respeito a Xi em suas passagens por Seattle e Washington.
A aduladora cobertura doméstica é importante para Xi, que tem sofrido com a instabilidade do mercado chinês e uma enfraquecida economia justo no momento em que é importante para o político consolidar sua liderança à frente do importante congresso do Partido Comunista em 2017.
Em visita a uma escola de ensino médio em Tacoma, próximo a Seattle, onde Xi e sua esposa, a cantora Peng Liyuan, assistiram a um coro de jovens, a televisão estatal chinesa focava na demonstração de apreço das crianças pelos políticos chineses.
Um dia antes, Xi citou Martin Luther King e encheu de referências da cultura pop norte-americana um discurso feito a executivos da tecnologia.
A China também enfatizou a relação pessoal de Xi com os Estados Unidos, com a agência de notícias Xinhua exibindo um vídeo em sua página do Facebook --rede social que é bloqueada na China-- em que Xi aparece como uma pessoa extremamente amigável aos EUA.
A visita do Papa aos Estados Unidos, por outro lado, mal foi explorada pela mídia chinesa. O Vaticano não tem nenhum laço diplomático com Pequim desde pouco tempo depois do Partido Comunista chegar ao poder em 1949.
Em sua primeira visita aos Estados Unidos, o Papa Francisco, considerado o papa mais socialmente progressista das últimas gerações, tem atraído grandes públicos e as boas vindas que geralmente apenas grandes estrelas do rock merecem. A visita do pontífice se encerra neste domingo na Filadélfia. Veículos de mídia norte-americanos têm exibido cada palavra e cada passo do papa.
A partir de 26 agosto até 25 setembro, as menções dos Estados Unidos via Twitter sobre Francisco ultrapassaram 765 mil, em comparação com 107 mil sobre Xi, de acordo MediaMiser, uma empresa que acompanha o conteúdo de mídia.
Enquanto isso, nos artigos na internet entre 20 e 24 de Setembro, o Papa foi mencionado quase quatro vezes mais do que Xi. Na televisão, o Papa foi mencionado cerca de 25 vezes.
"Para ser contrastado com alguém que não tem poder militar, econômico e ser completamente ofuscado, eu acho que é incrível. Eu não acho que os chineses estão destacando o contraste", disse Jorge Guajardo, ex-embaixador do México na China.
No entanto, as autoridades chinesas minimizaram qualquer sugestão de que a visita do Papa ofuscou Xi.
"Sua visita (de Francisco) tem interesse próprio aqui e a visita do presidente Xi tem sua própria importância", disse o porta-voz da delegação chinesa Lu Kang.
(Por Ben Blanchard e David Brunnstrom)