Por Lizbeth Diaz
CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - Forças de segurança locais, estaduais e federais do México sabiam do sequestro de 43 estudantes em 2014 e foram cúmplices de seus desaparecimentos, informou um relatório preparado por um painel de investigação independente nesta terça-feira.
O Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI) -- um painel nomeado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos encarregado de investigar o caso -- disse no relatório sobre um dos mais notórios escândalos de direitos humanos do México que o Exército, a Marinha, a polícia e as agências de inteligência sabiam, minuto a minuto, onde estavam os estudantes.
"Todos eles colaboraram com o desaparecimento", disse o membro do painel do GIEI Carlos Beristain, em entrevista coletiva antes da apresentação do relatório final de apuração do grupo.
O Exército disse que não tinha comentários. A Marinha não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. As forças armadas do México há muito negam ter informações sobre os desaparecimentos.
Os 43 jovens desaparecidos faziam parte de um grupo maior de estudantes do Colégio Rural Ayotzinapa, que foi atacado na cidade de Iguala, no Estado de Guerrero, na noite de 26 de setembro de 2014. Alguns membros do grupo morreram no local ou fugiram.
Em suas descobertas iniciais, o governo anterior concluiu que os 43 haviam sido sequestrados por policiais corruptos em conluio com uma quadrilha local de traficantes de drogas que acreditava que os alunos haviam sido infiltrados por membros de um grupo rival. A gangue então matou os estudantes e queimou seus corpos, disse o relatório.
O GIEI e o atual governo dizem que o relato estava repleto de erros e que os funcionários ocultaram informações, usando tortura para obter falsos testemunhos, e que membros das forças armadas foram cúmplices dos desaparecimentos.
Depois que o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, crítico contundente do governo anterior, assumiu o cargo em 2018, ele criou uma "comissão da verdade" para investigar o caso e renovou o mandato do GIEI, formado em 2014.
A investigação constatou que membros da Marinha e do Exército realizaram operações conjuntas secretas e não declaradas e manipularam informações relevantes para o caso, segundo o relatório publicado na terça-feira.
Nas horas cruciais após o desaparecimento dos alunos, pelo menos 500 ligações sobre o incidente foram registradas em um centro de vigilância de segurança do governo, disse o relatório.
Enquanto isso, os soldados que inicialmente testemunharam que estavam em seus quartéis naquela noite estavam ligados a locais para onde os estudantes teriam sido levados, afirma o relatório.
O Exército e a Marinha também prenderam secretamente cinco suspeitos do caso que eram considerados desaparecidos até agora, argumentou o relatório, usando documentos, fotografias e depoimentos.