Por Matthias Blamont
CALAIS, França (Reuters) - Dezenas de jovens acordaram sob os olhares vigilantes de tropas de choque da França nesta sexta-feira, depois de uma noite fria passada ao relento perto do campo de imigrantes de Calais conhecido como "Selva", enquanto os governos de Paris e Londres discutem sobre o destino deles e de mais centenas de pessoas determinadas a irem para o Reino Unido.
Instituições de caridade lhes ofereceram alimento e bebidas quentes, dizendo aos jornalistas que os jovens são só uma amostra das dezenas de menores de idade que estão em um limbo desde o esvaziamento do campo, que agora está sendo demolido.
O vasto terreno de vegetação rasteira, um símbolo das dificuldades da Europa para lidar com um influxo recorde de refugiados de zonas de guerra como Sudão e Afeganistão, foi liberado nesta semana, e escavadoras logo surgiram para planificar o local.
Autoridades governamentais da região dizem que mais de 6 mil pessoas foram retiradas do campo precário e miserável e transferidas para cidades de toda a França.
Mas as preocupações se desviaram para os mais de mil menores isolados que foram colocados em contêineres nas proximidades ou simplesmente não deram sinal de vida. Muitos só querem uma coisa: ir para o Reino Unido, que é quase visível através do mar em Calais.
Em um comunicado emitido de quinta para sexta-feira, o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, disse estar "surpreso" com as declarações de sua homóloga britânica, Amber Rudd, e que conta que Londres irá honrar a obrigação de acolher menores de Calais.
Rudd parece ter causado espanto ao dizer que a França deve proteger as crianças imigrantes ainda na cidade portuária e sugerir que ao menos algumas deveriam permanecer em solo francês ao invés de serem levadas a seu país, que conforme a lei da União Europeia é obrigado a reunir menores a familiares residentes no Reino Unido.
De acordo com o porta-voz de seu Ministério, Rudd disse: "Qualquer criança que não se qualifique ou não esteja na área segura do campo deveria ser cuidada e protegida pelas autoridades francesas".
Um comunicado conjunto de Cazeneuve e da ministra da Habitação da França disse que Paris espera que o Reino Unido "execute rapidamente suas responsabilidades de acolher estes menores, que esperam ir ao Reino Unido. Esta é a melhor maneira de lhes dar a proteção que lhes é devida".
As chamadas regras de Dublin da UE dizem que o Reino Unido deve receber crianças desacompanhadas com laços familiares no país. Uma emenda destas leis, adotada por Londres neste ano, afirma que os menores cujos interesses forem mais bem servidos desta maneira também devem ser acolhidos.
(Reportagem adicional de Andrew Callus)