SANTIAGO (Reuters) - O governo chileno mostrou nesta quinta-feira sua disposição de realizar "mudanças estruturais" no país como as reivindicadas amplamente pela população nos últimos dias, mas os partidos da oposição classificaram as propostas como "insuficientes" após uma reunião no Palácio de la Moneda.
O país sul-americano vive duas semanas de mobilizações sociais que deixaram cerca de 20 pessoas mortas, várias acusações de violações dos direitos humanos e grande destruição da rede de transporte público, lojas e edifícios em todo o país.
A convulsão que vive o Chile também levou o presidente Sebastián Piñera desistir de realizar a cúpula dos países de Ásia-Pacífico Apec e a reunião global sobre mudança climática COP25 da Organização das Nações Unidas, que deveriam ocorrer nas em breve.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversou com Piñera na quarta-feira para expressar seu apoio à decisão de suspender as cúpulas e denunciou a suposta interferência estrangeira no país sul-americano, informou a Casa Branca.
O núcleo das reivindicações está agrupado em torno da elaboração de uma nova Constituição que invalida a vigente desde a ditadura, melhores pensões e salários, acesso equitativo à saúde, uma reforma tributária que aumente a carga sobre altas rendas e novas condições em serviços básicos.
O governo convocou partidos da oposição na quinta-feira para avançar em uma agenda de mudanças. O recém-nomeado ministro do Interior, Gonzalo Blumel, descreveu como "positiva" a reunião realizada em La Moneda, da qual o Partido Comunista não participou.
"Acreditamos que chegou a hora da política, mas da boa política, que dialoga, que conversa e que constrói acordos para poder avançar nas questões mais importantes para as pessoas", disse ele, enfatizando que "o governo não se fecha a nenhuma reforma estrutural".
O ministro da Fazenda, Ignacio Briones, novo no cargo, chamou essa rodada de diálogos com a oposição de "ponto de inflexão" e, depois de mostrar sua preocupação com a "situação econômica" que o Chile está enfrentando neste momento, ele defendeu "dar sinais muito concretos a favor do investimento".
A oposição, por outro lado, acusou o Executivo de ter apresentado medidas "insuficientes" e de não ter muito ânimo para avançar em favor de uma nova Constituição.
"O governo não tem a dimensão do que está acontecendo no país e ainda não está ciente do enorme desconforto dos cidadãos", disse Álvaro Elizalde, presidente do Partido Socialista.
(Por Carlos Serrano)