Por Andrew Osborn
(Reuters) - Um membro sênior de um grupo de estudos russo, cujas ideias às vezes se tornam políticas governamentais, sugeriu que Moscou considerasse uma explosão nuclear de "demonstração" para forçar o Ocidente a se recusar a permitir que a Ucrânia use suas armas contra alvos dentro da Rússia.
A proposta, feita por Dmitry Suslov, membro do Conselho de Política Externa e de Defesa, sediado em Moscou, foi emitida um dia depois que o presidente Vladimir Putin advertiu o Ocidente de que os membros da Otan na Europa estavam brincando com fogo ao propor que Kiev usasse armas ocidentais para atacar o interior da Rússia, algo que, segundo ele, poderia desencadear um conflito global.
A liderança da Ucrânia diz que precisa ser capaz de atacar as forças russas e alvos militares dentro da Rússia com mísseis ocidentais de longo alcance para poder se defender e evitar ataques aéreos, de mísseis e de drones, uma visão que encontrou apoio em alguns países ocidentais, mas ainda não em Washington.
A Rússia, que possui o maior arsenal nuclear do mundo, advertiu que consideraria essa medida como uma grave escalada que levaria a Otan e os países envolvidos a um conflito direto com Moscou, aumentando o risco de uma guerra nuclear.
Suslov, membro do Conselho de Política Externa e de Defesa, um grupo de estudos elogiado por Putin, que afirmou que as autoridades às vezes adotam suas ideias políticas, disse que a Rússia precisava agir para dissuadir o Ocidente de cruzar a linha vermelha.
"Para confirmar a seriedade das intenções da Rússia e convencer nossos oponentes da prontidão de Moscou para uma escalada, vale a pena considerar uma explosão nuclear demonstrativa (ou seja, sem combate)", escreveu Suslov na revista de negócios Profil.
"O efeito político e psicológico de uma nuvem em forma de cogumelo nuclear, que será mostrada ao vivo em todos os canais de TV do mundo, fará com que os políticos ocidentais se lembrem da única coisa que impediu as guerras entre as grandes potências desde 1945 e que agora eles perderam em grande parte -- o medo da guerra nuclear."
Suslov é o mais recente especialista em segurança e parlamentar russo a argumentar que Moscou deveria testar uma bomba nuclear para intimidar em meio à guerra da Ucrânia, alimentando temores entre os especialistas em segurança ocidentais de que a Rússia possa estar se aproximando de tal teste.
Essa medida, se realmente acontecer, poderia dar início a uma nova era de testes nucleares de grandes potências.
Não houve nenhum comentário imediato sobre a proposta de Suslov por parte do Kremlin, que afirmou que a política nuclear da Rússia permanece inalterada, ao mesmo tempo em que sinalizou seu descontentamento com o que considerou uma retórica ocidental cada vez mais agressiva em relação ao armamento de Kiev no início deste mês, ordenando exercícios táticos com armas nucleares.
TESTE NUCLEAR?
Suslov sugeriu que a Rússia também inicie exercícios nucleares estratégicos, avise a qualquer país cujas armas sejam usadas por Kiev para atacar a Rússia que Moscou se reserva o direito de atacar os alvos desse país em qualquer lugar do mundo e avise que poderá usar armas nucleares se esse país retaliar convencionalmente.
Em novembro, Putin assinou uma lei retirando a ratificação da Rússia do tratado global que proíbe testes de armas nucleares, uma medida que, segundo ele, foi projetada para alinhar a Rússia com os Estados Unidos, que assinaram, mas nunca ratificaram o tratado.
Diplomatas russos disseram na época que a Rússia, que não realizou nenhum teste nuclear pós-soviético, não retomaria os testes nucleares a menos que Washington o fizesse.
A União Soviética testou pela última vez em 1990 e os Estados Unidos em 1992. Somente a Coreia do Norte realizou um teste que envolveu uma explosão nuclear neste século.
A Rússia alertou o Reino Unido neste mês que poderia atacar instalações e equipamentos militares britânicos dentro da Ucrânia e em outros lugares se as armas britânicas fossem usadas pela Ucrânia -- com a bênção de Londres -- para atacar o território russo.
A advertência foi feita depois que o ministro das Relações Exteriores britânico, David Cameron, disse que Kiev tinha o direito de usar armas fornecidas pelo Reino Unido para atingir alvos dentro da Rússia.