BEIRUTE/BERLIM (Reuters) - O Irã expressou desprezo pela ameaça norte-americana de endurecer as sanções nesta terça-feira e pediu que as potências europeias tomem posição e salvem o acordo nuclear internacional, mas a Alemanha sinalizou que não existe muito que possa fazer para se contrapor à influência econômica de Washington.
Militares e políticos iranianos de alto escalão se revezaram para fazer declarações desafiadoras um dia depois de os Estados Unidos ameaçarem impor "as sanções mais fortes da história" se o Irã não realizar mudanças abrangentes.
Uma quinzena depois de o presidente dos EUA, Donald Trump, desligar seu país do acordo nuclear, seu governo disse à República Islâmica que desista de seu programa nuclear e se retire da guerra civil da Síria, entre outras exigências, aumentando ainda mais o risco de um confronto entre Washington e Teerã.
"O povo do Irã deveria permanecer unido diante disto, e dará um murro forte na boca do secretário de Estado americano e de qualquer um que os apoie", afirmou Ismail Kowsari, vice-comandante da Guarda Revolucionária do Irã, de acordo com a agência de notícias Ilna.
O pacto nuclear de 2015, firmado por EUA, Reino Unido, França, China, Rússia, Alemanha e Irã, suspendeu sanções a Teerã em troca da limitação do programa atômico iraniano.
Trump o classificou como o pior acordo já negociado, mas as potências europeias o veem como a melhor chance de impedir o Irã de desenvolver uma bomba nuclear.
Depois da saída dos EUA, os outros signatários disseram que tentarão manter o acordo e preservar o comércio de petróleo e os investimentos no Irã. Mas empresas europeias se dizem receosas de serem alvo das novas sanções norte-americanas, dado o alcance global de Washington, e algumas já começaram a encerrar seus negócios.
O chefe do Comitê de Segurança Nacional e Política Externa iraniano no Parlamento disse que a única forma de salvar o acordo nuclear seria os signatários europeus confrontarem os EUA.
"Hoje eles precisam mostrar sua força diante da pressão americana", disse Alaeddin Borujerdi, segundo a Agência de Notícias dos Estudantes Iranianos.
Na segunda-feira o ministro das Relações Exteriores alemão, Heiko Maas, disse a repórteres na Argentina que viajará de lá para Washington para debater o pacto nuclear com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, mas não informou a data da reunião.
Mais cedo o ministro da Economia alemão disse a um jornal que o governo de Berlim ajudará empresas alemãs com negócios no Irã como puder, mas que não pode blindá-las totalmente da decisão norte-americana de sair do acordo e reaplicar sanções.
Sua declaração foi ecoada pelo chanceler de Luxemburgo, Jean Asselborn, que disse haver limites nos poderes da União Europeia para persuadir empresas maiores a permanecerem no Irã face às sanções que os EUA ameaçaram adotar.
Na semana passada o presidente francês, Emmanuel Macron, reconheceu o dilema enfrentado pelas companhias que têm que escolher entre fazer negócios com os EUA, a maior economia do mundo, e correr o risco de se expor a sanções e multas pesadas negociando com o Irã.
(Por Babak Dehghanpisheh em Beirute, Michelle Martin e Andrea Shalal em Berlim e Gabriela Baczynska em Bruxelas)