DUBAI (Reuters) - Um jornal do governo do Irã alertou nesta terça-feira que ações muito radicais em meio à discórdia nuclear com o Ocidente podem levar ao isolamento do país depois que Teerã suspendeu inspeções relâmpago de inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU).
O enviado iraniano para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Kazem Gharibabadi, disse que seu país encerrou a implantação do chamado Protocolo Adicional à meia-noite local de segunda-feira. O acordo permitia que a AIEA realizasse inspeções com pouco aviso prévio.
O jornal estatal Iran criticou os parlamentares linha-dura que protestaram na segunda-feira contra a decisão de Teerã de permitir um monitoramento "necessário" de inspetores da ONU por até três meses, dizendo que isto viola uma lei aprovada pelo Parlamento em um esforço aparente de pressionar os Estados Unidos a suspender sanções.
A lei exige o fim das inspeções relâmpago da agência nuclear da ONU a partir desta terça-feira se as sanções forem mantidas.
"Aqueles que dizem que o Irã precisa adotar uma ação rápida e dura sobre o acordo nuclear deveriam dizer que garantia existe de que o Irã não será abandonado, como no passado... e isto dará em algo além de ajudar a formar um consenso contra o Irã?", indagou o diário.
Para abrir caminho para a diplomacia, no domingo a AIEA chegou a um acordo com o Irã para aparar o golpe da cooperação reduzida de Teerã e de sua recusa de permitir inspeções com pouco aviso prévio.
Na segunda-feira, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse que seu país pode enriquecer urânio a uma pureza de 60% se precisar, mas voltou a negar qualquer intenção iraniana de buscar armas nucleares.
O acordo nuclear de 2015 do Irã com seis potências, que o país deixou de respeitar desde que os Estados Unidos se desvincularam do pacto em 2018 e voltaram a impor sanções à República Islâmica, limita a pureza físsil com que Teerã pode refinar urânio a 3,67%, bem abaixo dos 20% obtidos antes do acordo e muito inferior aos 90% adequados a uma arma nuclear.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que os comentários de Khamenei "parecem uma ameaça", mas reiterou a disposição norte-americana de dialogar com o Irã a respeito de um retorno ao acordo nuclear.
Na semana passada, Washington disse estar pronto para conversar com o Irã sobre o retorno das duas nações ao acordo abandonado pelo ex-presidente Donald Trump.
Também na semana passada, Teerã disse estar estudando uma proposta da União Europeia para uma reunião informal entre os membros atuais do acordo e os EUA, mas ainda não respondeu a ela.
O Irã, que voltou a enriquecer a 20% como tentativa aparente de pressionar os EUA, não se entende com Washington quanto a qual lado deveria dar o primeiro passo para ressuscitar o pacto.
(Da redação de Dubai)