Por Babak Dehghanpisheh e Parisa Hafezi
DUBAI (Reuters) - Iranianos enterraram os mortos de um avião de carreira abatido por militares nesta quarta-feira, mesmo dia em que autoridades identificaram mais das 176 vítimas do acidente da semana passada.
As emoções estão à flor da pele após o luto pelas vítimas da tragédia de 8 de janeiro. A bandeira nacional foi puxada do caixão de uma vítima quando parentes receberam o corpo – a mãe gritou "arranquem-na", como mostrou um vídeo publicado na internet.
Manifestantes foram às ruas de cidades iranianas durante quatro dias depois que as Forças Armadas finalmente admitiram no sábado, depois de dias negando-o, que derrubaram o avião. Em vários locais, os manifestantes se depararam com uma reação violenta da polícia.
Nas redes sociais, os iranianos pediram mais protestos nesta quarta-feira, mas não surgiram sinais do tipo de aglomeração dos dias anteriores. Em vez disso, vídeos mostraram batalhões de choque diante de universidades, o foco das manifestações.
Em protestos anteriores, filmagens revelaram policiais espancando manifestantes, sons de tiros, gás lacrimogêneo e sangue no chão.
É difícil precisar a escala plena dos tumultos e da repressão por causa das restrições ao noticiário independente.
A polícia negou ter aberto fogo e disse que seus agentes foram instruídos a agir com moderação – mas só dois meses atrás, uma repressão aos protestos causados pelo aumento dos preços dos combustíveis deixou centenas de pessoas mortas.
"O governo se vê sitiado por todos os lados no momento, e não permitirá que nenhum protesto se transforme em um movimento de âmbito nacional", disse Ali Vaez, diretor do Projeto Irã do International Crisis Group.
O Irã está lutando em várias frentes. Seu programa nuclear provocou uma nova crise internacional, a economia está em frangalhos por causa das sanções dos Estados Unidos e um impasse de longa data com os norte-americanos tomou os contornos de um conflito aberto durante um breve momento.
O avião de passageiros foi abatido pela defesa aérea quando as Forças Armadas estavam em alerta para represálias dos EUA horas depois de o Irã lançar mísseis contra alvos norte-americanos no Iraque, uma retaliação a um ataque de drone que matou o comandante iraniano Qassem Soleimani no dia 3 de janeiro.
O chefe do instituto médico legal de Teerã disse que 123 das
176 vítimas do voo 752 da Ukraine International Airlines que seguia para Kiev foram identificadas, segundo a agência de notícias Ilna.