BAGDÁ (Reuters) - O governo do Iraque considera vender petróleo através do Irã, se as negociações com a região autônoma curda sobre um acordo de partilha da receita do petróleo falhar, disse à Reuters uma autoridade do Ministério do Petróleo em Bagdá.
A Organização de Marketing do Estado do Iraque (SOMO, na sigla em inglês), planeja negociar com o Governo Regional do Curdistão (KRG), possivelmente na próxima semana, sobre o petróleo iraquiano exportado através da Turquia, disse o vice-ministro do Petróleo Fayadh al-Nema em uma entrevista na sexta-feira à noite.
"Se as negociações chegarem ao fim sem um acordo vamos procurar um outro caminho a fim de vender nosso petróleo, seja pelo Irã ou outro país, porque precisamos de dinheiro", disse ele, por telefone.
O Iraque, segundo maior produtor da Opep, depois da Arábia Saudita, depende do petróleo para 95 por cento de sua receita pública. Sua economia está sendo atingida pelo duplo impacto dos baixos preços do petróleo e da guerra contra os militantes do Estado Islâmico.
A região do Curdistão produz cerca de 500.000 barris por dia em seu território e exporta esses volumes através da Turquia. Bagdá não seria capaz de redirecionar esses volumes para o Irã, mas poderia pedir transferência de cerca de 150.000 bpd via Irã, que estão sendo produzidos na província vizinha de Kirkuk.
Um acordo entre o Irã e o Iraque poderia funcionar de forma semelhante aos de troca de petróleo que Teerã mantém com as nações do Mar Cáspio, de acordo com um funcionário do setor que pediu para não ser identificado.
O Irã iria importar petróleo iraquiano para suas refinarias e exportar uma quantidade equivalente de sua própria produção bruta em nome de Bagdá, a partir de portos iranianos no Golfo. O Iraque tem portos no Golfo, mas eles não estão ligados aos campos de Kirkuk por gasodutos.
A estatal North Oil Company do Iraque retomou o bombeamento de petróleo através do oleoduto curdo, controlado pela Turquia, na semana passada como "um sinal de boa vontade para convidá-los (aos curdos) para iniciar as negociações", disse Nema.
O fluxo de petróleo bruto extraído de Kirkuk pela North Oil Company e bombeado pelo gasoduto é de cerca de 75.000 bpd desde a semana passada, ou metade da taxa antes de o bombeamento ser interrompido em março, disse Nema.
O oleoduto transporta petróleo para o porto mediterrâneo de Ceyhan, onde os curdos o comercializam de forma independente no mercado internacional, com o petróleo produzido em sua região norte.
O governo curdo tem solicitado a Bagdá desde março a retomada do bombeamento de Kirkuk na íntegra para ajudar Erbil a financiar sua guerra contra o Estado Islâmico. Fontes em Erbil dizem que a divisão do fluxo de Kirkuk iria dividir os curdos e complicar a tarefa de combater os militantes radicais.
Um porta-voz KRG disse em junho à Reuters que os curdos estão prontos para chegar a um acordo com Bagdá se for garantido um rendimento mensal de US$ 1 bilhão, mais do que o dobro do que eles conseguem atualmente com a venda de seu próprio petróleo.
A disputa gira em torno das exportações curdas de petróleo que Bagdá quer trazer sob seu controle. "Se este petróleo vai para o mercado internacional ou primeiro a Bagdá e, em seguida, para o mercado, não faz diferença", acrescentou. "Estamos prontos para dialogar com Bagdá."
O governo curdo parou de entregar petróleo para o governo central há cerca de um ano, uma decisão tomada quando o pagamento de Bagdá caiu abaixo de US $ 400 milhões por mês.
É também em uma disputa com o governo central sobre Kirkuk, onde a North Oil produz seu petróleo e que os curdos reivindicam como parte de seu território. Os curdos tomaram o controle da região, há dois anos, depois de o exército iraquiano se desintegrar quando Estado Islâmico invadiu um terço do país.
(Por Stephen Kalin. Reportagem adicional de Aref Mohammed em Basra)