Por Maher Nazeh
BAGDÁ (Reuters) - O jornalista iraquiano Muntazer al-Zaidi ganhou fama mundial quando arremessou seus sapatos contra o presidente norte-americano George W. Bush para mostrar sua raiva pela corrupção e caos que se seguiram à invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003. E ele ainda está irritado.
"As mesmas pessoas que entraram 20 anos atrás com o ocupante ainda estão governando, apesar dos fracassos e da corrupção. Os EUA sabem muito bem que trouxeram pseudopolíticos", disse ele à Reuters, comentando o episódio de 2008 que ocorreu durante entrevista coletiva de Bush à imprensa em Bagdá.
Bush, que estava ao lado do então primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki, abaixou-se para evitar o calçado atirado em sua direção a partir do outro lado da sala. Atirar sapatos em alguém é um profundo insulto no mundo árabe.
"Este é um beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro!", gritou Zaidi antes que os oficiais de segurança o expulsassem da sala.
Bush foi criticado em todo o Oriente Médio pela decisão de derrubar Saddam Hussein, uma ação lançada com base em informação falha da inteligência dos EUA de que o líder iraquiano havia reunido armas de destruição em massa.
O presidente dos EUA minimizou o incidente do arremesso de sapatos na época, dizendo: "É como ir a um comício político e as pessoas gritarem com você. É uma maneira de as pessoas chamarem a atenção."
Zaidi, que cumpriu seis meses de prisão por agredir um chefe de Estado visitante, partiu para o Líbano após sua libertação, mas voltou para concorrer a uma cadeira no Parlamento iraquiano em 2018 buscando combater a corrupção, embora sua candidatura eleitoral tenha fracassado.
"Você sente amargura ao ver a dor das pessoas 24 horas por dia", disse ele.
Zaidi acrescentou que continuou a fazer campanha contra a corrupção e nunca se arrependeu de ter jogado os sapatos contra Bush.
"Esta cena é a prova de que um dia uma pessoa simples foi capaz de dizer não àquele arrogante com todo o seu poder, tirania, armas, mídia, dinheiro e autoridade, e dizer que você (Bush) estava errado."