Por Philip Pullella e Steve Scherer
ROMA (Reuters) - A Itália convocou o embaixador na França e rejeitou enfurecidamente o criticismo francês de suas políticas de imigração na quarta-feira, escalando um impasse diplomático entre as potências europeias vizinhas.
O ministro da Economia da Itália, Giovanni Tria, também cancelou uma reunião com seu colega em Paris, um dia após o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmar que Roma havia agido com "cinismo e irresponsabilidade" ao fechar os portos aos migrantes.
"Não temos nada que aprender sobre generosidade, voluntarismo, hospitalidade ou solidariedade, de ninguém", afirmou o ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, no Senado.
Salvini, que também é vice-premiê e líder do partido Liga, anti-imigração, pediu que a França se desculpe e disse que não está preparado para receber críticas de um país que regularmente para migrantes na fronteira entre os dois países.
A disputa está centrada no navio assistencialista Aquarius, que tanto Itália quanto Malta se recusaram a deixar atracar em seus portos. A embarcação levava 629 migrantes e agora se dirige à Espanha, escoltada por duas embarcações italianos.
O caso tocou um dos assuntos mais controversos na política europeia --como compartilhar a responsabilidade pelos migrantes que tentam adentrar o bloco vindos de zonas de guerra e países pobres, principalmente do continente africano e do Oriente Médio.
A Liga, de Salvini, recebeu sua maior votação na história nas eleições de março, em parte por conta de suas promessas de deportar centenas de milhares de migrantes e conter o fluxo de outros novos, e formou uma coalizão com o Movimento 5 estrelas, que é anti-sistema.
Mais de 1,8 milhão de pessoas chegaram à Europa desde 2014, e a Itália abriga mais de 170 mil que pediram asilo, além de estimado meio milhão de migrantes não registrados.
Governos anteriores acusaram outros Estados da UE de ter ignorado os pedidos da Itália para ajudar a receber os migrantes e compartilhar os custos de seus cuidados.
A França tentou adotar um tom mais conciliador na quarta-feira, com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Agnes von der Muhll dizendo estar "completamente ciente do fardo que as pressões migratórias impõem à Itália", e que a França estaria comprometida em colaborar com Roma sobre imigração.
Os ministros da Economia dos dois países conversaram por telefone, segundo uma autoridade do Ministério das Finanças da França, e concordaram em remarcar a reunião cancelada.
Mas o ministro das Relações Exteriores da Itália, Enzo Moavero, manteve a artilharia ao dizer a um diplomata francês que os comentários de Macron eram "injustificáveis" e comprometiam as relações entre os dois países.