Por Tom Perry e Sarah Dadouch
BEIRUTE (Reuters) - O presidente libanês, Michel Aoun, disse a um enviado saudita nesta sexta-feira que Saad al-Hariri precisa voltar ao Líbano e que as circunstâncias de sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro estando na Arábia Saudita são inaceitáveis, disseram fontes presidenciais.
As autoridades libanesas acreditam que Hariri está detido em solo saudita, disseram à Reuters na quinta-feira duas autoridades de alto escalão do governo libanês, um político importante e próximo de Hariri e uma quarta fonte, em meio a uma crise crescente que está levando o Líbano às linhas de frente de uma disputa de poder entre a Arábia Saudita e o Irã.
O governo saudita diz que Hariri, um aliado saudita de longa data, é um homem livre e que não teve nada a ver com sua decisão de anunciar sua renúncia no sábado estando na Arábia Saudita.
Depois do anúncio de Hariri a Arábia Saudita acusou o Líbano e seu movimento xiita Hezbollah de declararem guerra aos sauditas. Riad alertou os cidadãos sauditas a não viajarem ao Líbano e a voltarem assim que possível caso se encontrem no país. Outros países do Golfo Pérsico também emitiram alertas de viagem.
Nesta sexta-feira, o importante político libanês Walid Jumblatt disse que seu país não merece ser acusado de declarar guerra contra a Arábia Saudita, dizendo estar "muito triste" que Riad tenha feito tal acusação após décadas de amizade.
"Nós não merecemos, como libaneses, tais acusações", disse Jumblatt à Reuters por telefone. "Por décadas, temos sido amigos".
Estas medidas causaram o temor de que Riad possa adotar ações contra o pequeno Estado árabe, que abriga 1,5 milhão de refugiados sírios.
O Líbano, onde sunitas, xiitas, cristãos e drusos, todos apoiados por potências regionais rivais, se envolveram em uma guerra civil entre 1975 e 1990, mantém um sistema de governo concebido para garantir que todos os grupos sejam representados.
A renúncia surpreendente do líder político sunita Hariri lançou o Líbano no centro de uma disputa regional entre a monarquia sunita da Arábia Saudita e o Irã islâmico xiita, cujo poderoso aliado Hezbollah tem grande influência.
Um "grupo de apoio internacional" de países preocupados com o Líbano, que inclui Estados Unidos, Rússia e França, apelou para que o Líbano "continue a ser blindado das tensões na região". Em um comunicado, eles também louvaram o pedido de Aoun pelo retorno de Hariri.
Durante a reunião com o enviado saudita, Aoun expressou preocupação com relatos sobre as circunstâncias de Hariri e clamou por esclarecimentos, segundo fontes presidenciais.
Hariri, cujo pai foi premiê durante muito tempo e que foi morto por uma bomba em 2005, disse ao renunciar que teme ser assassinado e culpou o Irã por interferir nos assuntos libaneses.
Sua saída desmontou um acordo político entre facções rivais que fez dele o premiê, e Aoun o chefe de Estado, no ano passado.