Por Vivian Sequera
CARACAS (Reuters) - Manifestações pacíficas de rua e pressão internacional ainda têm o potencial de tirar do poder o presidente venezuelano Nicolás Maduro, disse a líder da oposição María Corina Machado nesta terça-feira, quando a disputa eleitoral atingiu a marca de um mês e os caminhos da oposição para reivindicar o poder pareciam estreitos.
A discordância sobre a disputa de 28 de julho provocou clamores internacionais pela divulgação da contagem completa dos votos e protestos que resultaram em mortes, além de ações da procuradoria-geral do país para investigar a oposição e prender jornalistas.
Machado disse em uma entrevista à Reuters por chamada de vídeo que a oposição tem uma "estratégia robusta" para reivindicar a vitória. Ela não quis dar detalhes, mas acrescentou que ela e o ex-candidato da oposição Edmundo González estão unidos.
"É a coordenação entre as forças internas e externas que vai conseguir a mudança", disse Machado, que apareceu em passeatas, mas segue escondida desde a votação.
"O que resta a Maduro hoje? Um grupo muito reduzido de soldados de alto escalão, o controle de magistrados do (Tribunal Supremo) e armas... ele está semeando o medo."
A autoridade eleitoral nacional da Venezuela e seu Tribunal Supremo nomearam Maduro como o vencedor da eleição, dizendo que ele obteve pouco mais da metade dos votos na eleição.
Mas contagens de cerca de 80% das urnas postadas em um site da oposição mostram uma vitória retumbante de González, dando-lhe 67% de apoio.
Alguns países ocidentais, quase todas as democracias das Américas e órgãos internacionais, como um painel de especialistas das Nações Unidas, pediram a divulgação da contagem completa dos votos, com alguns alegando fraude total por parte do partido governista.
O conselho eleitoral ainda não publicou as atas com os resultados detalhados, dizendo que um ataque cibernético no dia da eleição afetou seus sistemas.
Questionada se Maduro, para quem Machado e González deveriam ser presos por incitar a violência em protestos, poderia permanecer no poder com o controle militar, a líder da oposição disse "não, absolutamente não".
Os comentários de Machado ocorrem no mesmo dia em que se espera que González ignore -- pela segunda vez -- uma intimação para comparecer ao gabinete do procurador-geral para testemunhar sobre o site da oposição.
Ex-diplomata de 74 anos, González ignorou sua primeira convocação na segunda-feira e um mandado de prisão poderá ser emitido se ele ignorar uma terceira.
Segundo Machado, os venezuelanos estão sentindo raiva e dor por causa da repressão e dos profundos problemas econômicos do país.
Perguntada se esses sentimentos poderiam levar a protestos violentos, Machado disse estar confiante de que os venezuelanos entendem como "administrar nosso poder".
"Há uma estratégia robusta que estamos desenvolvendo simultaneamente em várias frentes: opinião pública nacional, mantendo nosso povo focado no objetivo", disse ela. "Não devemos subestimar as pessoas... As pessoas estão informadas, alinhadas, protegendo umas às outras, denunciando os abusos do regime."
Os protestos desde a votação resultaram em pelo menos 27 mortes e 2.400 prisões, e tanto a oposição quanto o partido governista pediram aos apoiadores que se manifestassem na quarta-feira, aniversário de um mês da votação.
Autoridades do partido governista acusaram a oposição de promover a violência, e o procurador-geral Tarek Saab iniciou investigações criminais contra o líder da oposição Machado, González e o site neste mês.
As detenções de figuras da oposição e de manifestantes continuaram nas semanas seguintes, enquanto a Assembleia Nacional, controlada pelo partido governista, aprovava uma lei que torna mais rígidas as regras para Organizações Não Governamentais enquanto sindicatos denunciavam supostas demissões forçadas de funcionários públicos com pontos de vista pró-oposição.
(Reportagem de Vivian Sequera)