ISTAMBUL (Reuters) - O líder do principal partido de oposição da Turquia foi atacado por diversas pessoas neste domingo durante o funeral de um soldado em Ancara, antes de guardas de segurança o retirarem em segurança da multidão, segundo o partido e vídeos do incidente.
Kemal Kilicdaroglu, chefe do secular Partido Republicano do Povo (CHP) que gerou revolta em alguns após vitórias nas eleições de 31 de março, participava do funeral de um dos quatro soldados turcos mortos em embates na sexta-feira com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado ilegal.
O presidente turco Tayyip Erdogan, cujo Partido AK quer anular o resultado das eleições em Istambul, alertou repetidamente durante a campanha no mês passado que membros do PKK estavam entre a lista de candidatos do CHP.
Os embates com o PKK no sudeste do país na sexta-feira levaram diversos jornais pró-governo a relacionarem as mortes de soldados ao CHP. “Fora PKK” estava entre frases gritadas para Kilicdaroglu no domingo, de acordo com gravações em vídeo do incidente.
Diversos canais de TV divulgaram o vídeo, que mostra quando Kilicdaroglu é atingido na cabeça pelo menos duas vezes, enquanto um grupo de guardas de segurança e um policial tentavam manter dezenas de homens afastados, alguns dos quais gritavam “vergonha de você” e “maldito!".
Kilicdaroglu atravessou a multidão em direção a uma casa próxima, do lado de fora da qual uma multidão cantava "Fora PKK", de acordo com a emissora NTV. Mais de uma hora depois ele foi levado em um veículo blindado por policiais.
"Eles não querem que eu vá aos funerais dos nossos mártires", disse Kilicdaroglu, que já havia sido atacado após um funeral em 2016, a partidários do lado de fora da sede do CHP. "Eles acham que eu vou recuar se eles me atacarem. Eu não vou dar nem um passo para trás."
O promotor-chefe de Ancara, Yuksel Kocaman, disse que seis agressores foram identificados e os investigadores estão avaliando se o incidente está relacionado a terrorismo, segundo a agência estatal Anadolu.
"O incidente está sob controle ... As investigações começaram", disse Suleyman Soylu, ministro do Interior da Turquia. O ministro da Justiça, Abdulhamit Gul, também do AK, disse: "Não permitiremos que nenhum tipo de violência faça sombra à política democrática".
ELEIÇÃO CONFLITUOSA
Os resultados iniciais e uma série de recontagens mostraram que os candidatos a prefeito do CHP em Ancara e Istambul derrotaram os do Partido AK (AKP), em perdas dolorosas para Erdogan.
No entanto, o AKP apresentou duas petições para cancelar e re-executar a votação em Istambul, citando irregularidades em votos e eleitores.
Kilicdaroglu estava participando do funeral do soldado Yener Kirikci, que estava entre os mortos na sexta-feira, quando insurgentes do PKK atacaram uma base militar na montanhosa província de Hakkari, perto da fronteira com o Iraque. Os militares turcos disseram que seis outros soldados ficaram feridos e 20 membros do PKK foram mortos nos confrontos.
O PKK trava uma insurgência por autonomia no sudeste da Turquia, em grande parte curdo, desde 1984, e é considerado uma organização terrorista pela Turquia, Estados Unidos e União Europeia.
Um jornal pró-governo, Gunes, publicou uma manchete neste domingo que diz: "6 mortos e 4 feridos, você está feliz Ekrem?" - referindo-se ao novo prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, do CHP.
Como o Alto Conselho Eleitoral ainda não decidiu sobre os questionamentos do AKP, Imamoglu tomou posse como prefeito de Istambul na quarta-feira.
"Aqueles que realizaram o ataque não são nossos cidadãos, aqueles que fizeram isso agiram sob ordens", disse ele a uma multidão em Istambul neste domingo.
(Reportagem de Jonathan Spicer; reportagem adicional de Yesim Dikmen e Ece Toksabay em Ancara)