SÃO PAULO (Reuters) -O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu novamente nesta sexta-feira, data que marca um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, que um grupo de países sem envolvimento na guerra promova negociações de paz entre as duas nações.
"No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", disse o presidente no Twitter.
Lula, que no ano passado disse em entrevista à revista Time que tanto o presidente russo, Vladimir Putin, quanto o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, são responsáveis pelo conflito, tem defendido publicamente nos últimos dias a mediação de um grupo de países em busca do fim do conflito, que teve fortes impactos na economia global.
Na ocasião, o petista, então postulante à Presidência, disse que Zelenskiy "quis a guerra" e, se não quisesse, "teria negociado um pouco mais", embora tenha reafirmado que Putin "foi errado" em invadir o país vizinho.
Na quinta-feira, em votação na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil abandonou a postura neutra que vinha adotando em relação ao conflito e votou a favor de uma resolução, aprovada com 141 votos favoráveis e 32 abstenções, que exige que Moscou tire suas tropas da Ucrânia e pare de lutar.
Em sua defesa da criação de um grupo de países para mediar as conversas de paz, Lula destaca a importância da China -- país que mantém boa relação com Putin -- nessas negociações e já declarou sua intenção de tratar do assunto com o presidente chinês, Xi Jinping, em viagem ao país asiático em março.
O presidente brasileiro já tratou do tema com o chanceler alemão, Olaf Scholz, durante visita ao Brasil, e com o presidente da França, Emmanuel Macron, além do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, quando Lula o visitou nos EUA.
Em artigo publicado nesta sexta no jornal O Estado de S. Paulo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que é "inequívoca" a condenação do governo brasileiro à invasão da Ucrânia e que "chegou a hora de também dar voz aos que querem falar em caminhos para a construção da paz".
"O presidente Lula fez uma opção clara e pública nesse sentido", escreveu o chanceler no artigo.
ZELENSKIY QUER CÚPULA
Também nesta sexta-feira, Zelenskiy disse em entrevista coletiva em Kiev que pedirá uma reunião de cúpula entre a Ucrânia e líderes da América Latina, dizendo-se disposto a ir pessoalmente a um encontro deste tipo fora do território ucraniano.
O líder ucraniano disse ainda que quer que países da África, além da China e da Índia, participem de um plano de paz para a Ucrânia.
A declaração foi dada no mesmo dia que Pequim defendeu um cessar-fogo imediato no conflito, como parte de um plano de paz de 12 pontos, que foi rejeitado por Kiev, uma vez que as autoridades ucranianas exigem a retirada das tropas russas e o restabelecimento de suas fronteiras como em 1991.
Durante reunião do Conselho de Segurança da ONU, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, também rechaçou a proposta chinesa, afirmando que o colegiado não deve se deixar enganar por pedidos de cessar-fogo temporário ou incondicional na Ucrânia e não deve cair na "falsa equivalência" de pedir a ambos os lados que parem de lutar.
Blinken argumentou que Moscou usará qualquer pausa na luta para consolidar o controle do território e reabastecer suas forças.
Um ano após a invasão russa, a guerra na Ucrânia tem se concentrado em combates de trincheira no leste e no sul daquele país, com poucas avanços de lado a lado nos últimos meses.
Moscou, que declara ter anexado partes do território ucraniano, afirma que a guerra é uma "operação militar especial" destinada a "desnazificar" a Ucrânia e garantir a segurança da Rússia e de falantes de russo no país vizinho.
Kiev e seus aliados ocidentais, principalmente os membros da aliança militar Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), como os EUA e países europeus, afirmam se tratar de uma guerra não justificada de agressão que visa a tomada de território.
Os EUA e países da Otan enviaram bilhões de dólares em armas e ajuda militar à Ucrânia e autoridades graduadas da Rússia têm afirmado que o crescente envolvimento da aliança militar representa uma ameaça ao país e uma guerra por procuração contra Moscou.
(Por Eduardo SimõesEdição Alberto Alerigi Jr. e Pedro Fonseca)