WASHINGTON (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu homólogo dos Estados Unidos, Joe Biden, enfatizaram a questão climática em encontro na Casa Branca nesta sexta-feira, no qual o brasileiro defendeu uma governança global mais forte para tornar obrigatórias medidas contra a crise ambiental.
Biden, por sua vez, afirmou que Brasil e EUA estão na "mesma página" em relação às mudanças climáticas.
Em sua fala, Lula disse que a preservação da Amazônia é fundamental para o mundo, reforçando o compromisso do Brasil em reduzir o desmatamento e cortar emissões.
"É preciso que a gente estabeleça uma nova conversa para construir uma governança mundial mais forte. Porque a questão climática, se não tiver uma governança global forte que tome decisões que todos os países sejam obrigados a cumprir, se nós não tivermos, não vai dar certo", disse Lula.
"Eu não sei qual é o fórum. Não sei se é na ONU, não sei se é no G20, não sei se é no G8, mas alguma coisa nós temos que fazer para que a gente obrigue os países, o nosso Congresso, os nossos empresários a acatar decisões", acrescentou.
Depois da reunião com Biden, Lula disse a jornalistas diante da Casa Branca ter sentido a "disposição de Biden" para ajudar na proposta de ter mais autoridade na governança global para cuidar do meio ambiente.
A questão climática é uma das prioridades do presidente Lula, que viajou aos Estados Unidos como convidado à Casa Branca pelo presidente norte-americano.
No encontro, o brasileiro afirmou que nos últimos anos a Amazônia foi invadida pela irracionalidade política e humana devido ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e lembrou de sua promessa de campanha de alcançar o desmatamento zero até 2030.
Há expectativa de que os Estados Unidos anunciem sua primeira contribuição ao Fundo Amazônia, reativado pelo atual governo brasileiro, com um possível anúncio durante a visita de Lula a Washington. A jornalistas, Lula confirmou o interesse dos norte-americanos na iniciativa, sem maiores detalhes.
DEMOCRACIA
Lula disse a Biden que os dois países têm uma relação histórica, cultural, política, econômica e comercial, e, ao defender um trabalho conjunto na defesa da democracia, condenou a invasão ao Capitólio, na capital norte-americana em 2021, assim como os atos de depredação das sedes dos Três Poderes, no Brasil, em janeiro.
O presidente brasileiro agradeceu Biden por ter sido um dos primeiros a reconhecer a vitória do petista em outubro do ano passado, diante de ataques de Bolsonaro e aliados à lisura do processo eleitoral brasileiro e de suas ameaças de não acatar o resultado eleitoral.
Lula também reclamou da proliferação de desinformação e, sem citar nominalmente o ex-presidente Bolsonaro, afirmou que "o mundo dele" era permeado de notícias falsas "de manhã, de tarde e de noite", momento em que Biden esboçou um sorriso e soltou: "Parece familiar".
Lula agradeceu Biden pela defesa da democracia e elogiou o discurso do Estado da União feito pelo norte-americao nesta semana, em que, além de explanar questões econômicas e pedir união, Biden abordou questões raciais, tema também mencionado por Lula na entrevista desta sexta-feira.
(Reportagem de Andreal Shalal e Trevor Hunnicutt; Texto de Maria Carolina Marcello)