Por Michel Rose e Ingrid Melander
PARIS (Reuters) - A candidata da extrema-direita Marine Le Pen e Emmanuel Macron, de centro, bateram de frente sobre seus pontos de vista sobre o futuro da França e maneiras de lidar com terrorismo em um mal-humorado debate televisionado nesta quarta-feira, antes do segundo turno da eleição presidencial francesa, no domingo.
Os dois entraram no debate com pesquisas de opinião mostrando Macron, de 39 anos, com uma forte liderança de 20 pontos percentuais sobre Le Pen, 48 anos, da Frente Nacional, na eleição que é amplamente vista como a mais importante da França em décadas.
Para Le Pen, o debate, assistido por milhões, foi uma última grande chance de persuadir eleitores sobre os méritos de seu programa, que inclui repressão à imigração ilegal e o abandono do euro como moeda do país.
Em trocas de farpas agressivas, Le Pen se usou do passado de Macron como ex-banqueiro de investimento e ministro da Economia para pintá-lo como a continuidade do impopular governo socialista atual e defensor da globalização desenfreada. Ele a acusou de não oferecer soluções para problemas como o desemprego crônico da França.
Mas as discussões mais afiadas foram sobre segurança nacional, assunto sensível em um país onde mais de 230 pessoas foram mortas por militantes islâmicos desde 2015. Le Pen acusou Macron de ser complacente com o confronto à ameaça do fundamentalismo islâmico.
“Você não tem plano (de segurança), você é indulgente com o fundamentalismo islâmico”, disse.
Macron respondeu que o terrorismo será sua prioridade caso seja eleito e acusou Le Pen de ser simplista.
“O que você está propondo é óleo de cobra”, disse, se referindo às propostas de Le Pen de fechar as fronteiras da França.
“Irei liderar a luta contra o terrorismo islâmico em todos os níveis. Mas o que eles querem, a armadilha que eles estão criando para nós, é a que você oferece --guerra civil”, disse.
Le Pen rotulou Macron como um “banqueiro sorridente” e disse que ele representa a globalização desenfreada.
“O sr. Macron é o candidato da globalização louca, da uberização, da precariedade, da brutalidade social, da guerra de todos contra todos... de massacrar a França pelos interesses das grandes economias”, disse, se referindo ao serviço norte-americano de transporte Uber.
Macron respondeu chamando Le Pen de mentirosa, dizendo que ela falava bobagem e que sua retórica não tinha conteúdo.
Sobre desemprego, Macron disse a Le Pen: “Sua estratégia é simplesmente dizer uma gama de mentiras e somente dizer o que não vai bem no país”.
Os dois candidatos, sentados em lados opostos em uma mesa no estúdio de TV, exibiram pontos de vista diametralmente opostos para a França. Macron propõe reformas liberais para impulsionar a economia francesa, enquanto Le Pen se manifesta contra a perda de empregos franceses por terceirização e diz que irá adotar medidas comerciais protecionistas.
Macron terminou o primeiro turno, em 23 de abril, somente três pontos à frente de Le Pen, mas a expectativa geral é que ele conquiste votos dos socialistas e de eleitores de centro-direita, cujos candidatos foram eliminados.
Mas, embora Le Pen tenha uma montanha para escalar, a campanha foi repleta de surpresas.
Esperava-se que mais de 20 milhões de espectadores de um eleitorado de quase 47 milhões de pessoas assistissem ao debate de duas horas e meia de duração.
Em entrevista à Reuters na terça-feira, Le Pen reafirmou que quer tirar a França do euro e voltar a colocar uma moeda nacional nos bolsos franceses dentro de dois anos.
(Reportagem adicional de Sudip Kar-Gupta, Elizabeth Pineau, Simon Carraud e Geert De Clercq)