Por Tom Miles
GENEBRA (Reuters) - Os imigrantes africanos que tentam chegar à Europa podem estar morrendo em maiores números no deserto do Saara do que os milhares que se afogaram no mar Mediterrâneo, informou uma organização de monitoramento da imigração nesta sexta-feira.
Um relatório da 4mi, uma filiada do Conselho de Refugiados do Dinamarca, disse ter relatos de testemunhas que levam a crer que a travessia marítima --na qual muitos também foram resgatados por guardas costeiras europeias-- pode ser menos arriscada do que a etapa prévia da odisseia pelo deserto, onde muitas pessoas desaparecem sem deixar rastros.
"Imigrantes e refugiados do Chifre da África chegando à Líbia, ao Egito ou à Europa têm indicado de forma consistente que ainda mais pessoas podem morrer cruzando o deserto do Saara do que cruzando o Mediterrâneo, mas até o momento não temos disponibilidade de dados confiáveis sobre mortes de imigrantes em rotas terrestres", afirma o relatório.
As entrevistas com mais de 1.300 imigrantes entre 2014 e 2016 proporcionaram informações sobre cerca de 1.245 mortes de pessoas a caminho da Líbia, do Sudão e do Egito combinadas.
"O número relativamente pequeno de imigrantes entrevistados... dá a entender que a cifra de 1.245 é uma estimativa conservadora daqueles que de fato pereceram".
Embora esta quantia possa incluir redundâncias, "seria seguro supor que o número de imigrantes e refugiados morrendo antes de chegar às praias do Egito e da Líbia é ainda maior do que número de mortes no mar".
O levantamento provavelmente é a primeira tentativa de mensurar o tamanho de um saldo de mortes essencialmente ignorado de imigrantes no Sahara. A maioria foge da pobreza, da ausência da lei ou de guerras e parte em busca de empregos e segurança na Europa.
A Organização Internacional para a Migração (OIM), uma fonte de estatísticas sobre mortes de imigrantes citada com frequência, disse ter conhecimento de 103 imigrantes mortos ou desaparecidos no Saara e no norte da África em 2015, mas suspeitar que o total verdadeiro é muito superior.
As causas de mortes mais comuns relatadas entre os 1.245 óbitos foram doenças e falta de acesso a remédios, seguidas de inanição, acidentes em veículos, tiroteios e esfaqueamentos. Também houve 44 falecimentos atribuídos a abusos sexuais.
Neste ano, o influxo de refugiados com destino à Europa diminuiu dramaticamente devido aos fechamentos de fronteiras e a um acordo entre a União Europeia e a Turquia graças ao qual o fluxo de sírios e outros imigrantes partindo do território turco para a Grécia foi detido em grande parte.