LONDRES (Reuters) - Nove anos antes de Usman Khan matar duas pessoas com uma faca na London Bridge, ele foi ouvido pelos serviços de segurança britânicos discutindo como usar um manual da Al Qaeda que ele havia memorizado para construir uma bomba caseira.
Foi um trecho da conversa, juntamente com outras informações sobre um plano para bombardear a Bolsa de Londres, que levou a polícia britânica a prender Khan --então com 19 anos-- e um grupo de homens mais velhos em 20 de dezembro de 2010.
Condenado a um mínimo de oito anos de prisão em 2012, com a exigência de que o conselho de liberdade condicional avaliasse seu perigo para o público antes da libertação, ele foi libertado em dezembro de 2018 --sem uma avaliação do comitê.
Na sexta-feira, ele amarrou um colete suicida falso, armou-se com grandes facas de cozinha e agiu com violência em uma conferência sobre reabilitação de prisioneiros ao lado da London Bridge.
Confrontado por transeuntes, Khan foi derrubado no chão. Três policiais armados o cercaram. Eles atiraram duas vezes e o mataram.
"Esse indivíduo era conhecido pelas autoridades", disse o principal comissário britânico de combate ao terrorismo, Neil Basu. "Uma linha-chave de investigação agora é estabelecer como ele realizou esse ataque."
Até agora não está claro por que Khan, com 28 anos, começou o tumulto na London Bridge --cenário de outro ataque mortal antes das eleições de 2017, quando três militantes dirigiram uma van contra pedestres antes de esfaquear pessoas na área circundante, matando oito e ferindo pelo menos 48.
O Estado Islâmico disse que seus combatentes foram responsáveis pelo ataque de 2017, mas as autoridades britânicas lançaram dúvidas sobre essas alegações.
ACAMPAMENTO JIHADISTA
Khan, um homem britânico cuja família é originária da Caxemira controlada pelo Paquistão, foi radicalizado pela propaganda na Internet divulgada pela Al Qaeda na Península Arábica e, em particular, pelo militante Anwar al-Awlaki.
Awlaki, identificado pelas informações de inteligência dos EUA como "chefe de operações externas" da filial iemenita da Al Qaeda e um divulgador da causa islâmica na Internet, foi morto em um ataque de drones da CIA em 2011.
Khan fazia parte de um grupo de militantes da cidade inglesa de Stoke, que estabeleceu laços estreitos com militantes de Londres e da capital galesa, Cardiff.
As partes de Londres e Gales da conspiração tinham ambições de colocar uma bomba em um banheiro na Bolsa de Valores de Londres.
Khan conhecia e apoiava os planos das bombas e discutia o bombardeio de bares locais, mas ele e seu grupo Stoke traçaram um plano potencialmente mais sinistro: um acampamento ao lado de uma mesquita na Caxemira para treinar militantes jihadistas.
"O grupo Stoke era e foi considerado preeminente", disse o juiz britânico Alan Wilkie quando sentenciou Khan em 2012. "Eles se consideravam jihadistas mais sérios do que os outros."
Khan pretendia viajar para o campo para aperfeiçoar suas habilidades, incluindo treinamento em armas de fogo e realizar ataques na Caxemira.
"Foi planejado por todos eles que, em última análise, eles e os outros recrutas poderiam retornar ao Reino Unido como terroristas treinados e experientes disponíveis para realizar ataques terroristas neste país", disse Wilkie.
(Por Guy Faulconbridge e Michael Holden)