HAVANA (Reuters) - A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à comunista Cuba foi um "ataque" à história e cultura com o objetivo de desencaminhar uma nova classe empresarial, disse o ministro cubano das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, nesta segunda-feira, exibindo o sinal mais recente de revolta após a passagem surpreendente do líder norte-americano pela ilha no mês passado.
"Nesta visita, houve um ataque profundo a nossas ideias, nossa história, nossa cultura e nossos símbolos", afirmou Rodríguez no congresso do Partido Comunista.
Líderes cubanos adotaram um linguajar mais duro contra os EUA desde que Obama se tornou o primeiro presidente dos Estados Unidos a visitar a nação caribenha em 88 anos, e Fidel Castro o acusou de adular a população.
O presidente de Cuba, Raúl Castro, se referiu aos EUA como "o inimigo" no discurso de abertura do congresso partidário durante o final de semana, e pediu para seus compatriotas ficarem atentos a tentativas norte-americanas de enfraquecer a revolução.
O congresso, realizado a cada cinco anos, deve tomar decisões sobre o futuro da liderança idosa de Cuba e o progresso das reformas econômicas mais abertas ao mercado, que foram adotadas em 2011 e permitiram a abertura de mais negócios de pequeno porte.
As medidas só foram implementadas parcialmente, um reflexo da resistência da linha-dura do partido, que desconfia de uma economia mais voltada para o mercado e teme a reaproximação com Washington em um momento no qual os cubanos se tornam cada vez mais explícitos a respeito de suas necessidades.
"A rejeição retórica exacerbada da ala ideológica do Partido Comunista leva a crer que estão se sentindo altamente vulneráveis", opinou Richard Feinberg, ex-assessor de segurança nacional do ex-presidente Bill Clinton.
Rodríguez acusou Obama de buscar "encantar" o setor privado da ilha, enfatizando os temores de que as promessas dos EUA de incentivar os empreendedores cubanos tenham como alvo o fortalecimento da oposição contra o sistema de partido único em vigor desde 1959.
"O socialismo e a revolução cubana são as garantias de que possa haver um setor não-estatal que não seja aquele das grandes empresas norte-americanas", afirmou ele à televisão estatal.
Cuba fechou acordos com companhias dos EUA como a rede de hotéis Starwood e está conversando com outras, como a Alphabet, do grupo Google. No dia 1o de maio, a Carnival irá se tornar a primeira operadora de cruzeiros marítimos norte-americana a singrar para Cuba, mas a viagem ainda não é uma certeza por causa de uma proibição de cruzeiros entre os dois países.
Estados Unidos e Cuba restabeleceram relações diplomáticas depois que Raúl e Obama anunciaram, em dezembro de 2014, que as duas nações vizinhas estavam buscando a normalização dos laços.
Apesar da retórica, os músicos norte-americanos Smokey Robinson, Usher e Dave Matthews estavam em Havana nesta segunda-feira como parte das delegações que representaram o comitê de artes e humanidades de Obama. Um grupo de arquitetos dos EUA também visitou a ilha.
(Por Frank Jack Daniel e Nelson Acosta)