DAMASAK, Nigéria (Reuters) - "O Boko Haram está acabado", gritou um eufórico soldado do Níger enquanto seus companheiros dançavam e agitavam os rifles no ar para comemorar a libertação da cidade de Damasak, no norte da Nigéria.
Pichações nas paredes em árabe e a bandeira preto e branca do Boko Haram tremulando na cúpula de uma mesquita estão agora entre as poucas lembranças de quatro meses de reinado dos extremistas islâmicos na cidade, que as forças do Chade e do Níger libertaram no sábado.
A retomada do controle da cidade foi a mais recente vitória em uma ofensiva regional que virou a maré contra seis anos de insurgência jihadista. Se o moral das tropas for um indicador de sucesso militar, então a força regional de combate ao Boko Haram parece destinada a reforçar seus ganhos no campo de batalha.
Centenas de soldados fortemente armados do Chade e do Níger desfilaram triunfantes em caminhonetes Toyota pelas ruas empoeiradas de Damasak na quarta-feira, gritando e erguendo as armas após os ocupantes da cidade fugirem para a região no entorno.
"O moral da tropa está muito alto", disse o líder da força do Níger, coronel Mohamed Toumba. "Nós enfrentamos um inimigo que tinha realmente ocupado esta área, e não foi fácil empurrá-los para fora, mas nós conseguimos e agora eles estão reduzidos a quase nada."
Era um contraste gritante com o ano passado, quando as forças da Nigéria se dispersaram enquanto os rebeldes, que lutam para formar um Estado islâmico no norte do país, assumiam o controle de uma faixa de cidades no Estado de Borno, incluindo Damasak, e avançavam sobre a capital regional, Maiduguri.
No início deste ano, o Boko Haram controlava cerca de 20 áreas do governo local, um território do tamanho da Bélgica. Em uma reversão dramática, o Exército da Nigéria disse nesta terça-feira que empurrou os rebeldes para fora de quase todas, faltando ainda três distritos que eles controlam.
A ofensiva regional, lançada este ano pela Nigéria, Chade, Níger e Camarões ocorre no momento em que a Nigéria, o país mais populoso e a maior economia da África, se prepara para realizar eleições em 28 de março. A votação foi adiada por seis semanas após chefes de segurança dizerem que não poderiam garantir a segurança do pleito por causa das operações para combater o Boko Haram.
O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, tem sido criticado por não fazer o suficiente para combater a insurgência. Seu opositor, Muhammadu Buhari, concentrou sua campanha na fama de durão quando era chefe militar da Nigéria na década de 1980.
Em Damasak, veículos e motos abandonados estavam espalhados pelas ruas. As lojas estavam vazias. A cidade foi parcialmente saqueada antes de ser recapturado, mas testemunhas disseram ter poucas cicatrizes de batalha.
Segundo comandantes da força regional, a maioria dos combates ocorreu fora da cidade. Soldados do Chade exibiam dezenas de armas, incluindo muitos fuzis AK47 capturados dos rebeldes islamistas.
"A resistência foi feroz. O inimigo tinha até veículos blindados", disse Mohamed, estimando que 300 insurgentes foram mortos. "É bom para esmagar o inimigo."
Analistas questionam por quanto tempo os exércitos regionais poderão sustentar o ritmo da ofensiva atual, sem o apoio financeiro e logístico de potências ocidentais. As nações africanas querem que as Nações Unidas criem um fundo para financiar as operações.
E mesmo que o Boko Haram seja expulso das principais cidades do nordeste da Nigéria, os analistas advertem que continuará a ser uma força de guerrilha rural potente, capaz de ataques com bombas. No entanto, a velocidade de ganhos recentes contra o grupo tomou muita gente de surpresa.
(Reportagem adicional de Isaac Abrak em Baga)
((Tradução Redação Rio de Janeiro; 55 21 2223-7128))
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