Por Maria Carolina Marcello e Pedro Fonseca
BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Pelo menos 33 presos foram encontrados mortos em uma penitenciária de Roraima na madrugada desta sexta-feira, segundo o governo estadual, dias após um motim em um presídio de Manaus ter deixado 56 mortos como resultado de uma briga entre facções, mas para o ministro da Justiça as situações são distintas e não há risco de uma onda de rebeliões.
O ministro Alexandre de Moraes, que conversou com a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), descartou que o massacre em Roraima tenha sido motivado por uma vingança da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) pelas 56 mortes em uma penitenciária de Manaus no início da semana.
Questionado, afastou a possibilidade de essa sequência de motins tratar-se de uma onda: “Não há risco disso”.
“A informação que me foi passada inicialmente diz que se trata de acerto interno", disse Moraes em entrevista coletiva após apresentação do Plano Nacional de Segurança, no Palácio do Planalto.
“A situação não saiu do controle, é uma outra situação difícil”, afirmou o ministro, que deixou a coletiva para embarcar para Roraima, onde deve se reunir com autoridades estaduais de segurança. O ministro também esteve esta semana em Manaus após a rebelião na cidade.
Moraes explicou que o presídio onde ocorreram as 33 mortes em Roraima já não continha facções diferentes, medida motivada por brigas ocorridas no ano passado entre grupos rivais. A maioria dos mortos nesta madrugada, disse o ministro, eram “rivais internos” que teriam “traído” os demais. A facção presente nesse presídio é o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em nota, o Planalto informou que o presidente Michel Temer telefonou para a governadora de Roraima, "colocando todos os meios federais à disposição para auxiliar em ações de segurança pública", após as mortes no presídio.
"SEM DETALHES"
De acordo com a Secretaria de Comunicação Social do governo de Roraima, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar de Roraima estava no interior da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo nesta manhã avaliando o local. A secretaria não tinha mais detalhes sobre as mortes.
Em nota, o governo estadual afirmou que "a situação está sob controle".
Em outubro do ano passado, uma briga entre facções rivais na mesma penitenciária terminou com 10 mortos, mas o secretário de Justiça de Roraima, Uziel de Castro, disse em entrevista à rádio BandNews que as mortes desta sexta não têm relação com o incidente do ano passado.
O secretário reconheceu que o presídio sofre de superlotação, mas disse que não houve fuga relacionada com as mortes.
Especialistas em segurança alertaram que novos casos de violência podem ocorrer no sistema penitenciário do país em consequência da violência entre facções rivais.
"As autoridades devem estabelecer prioridade total e emergencial em todas unidades do Brasil onde existem facções rivais, antecipar futuras rebeliões e separar os grupos", disse o vice-presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Marcos Fuchs.
A rebelião em Manaus foi a mais violenta registrada no país desde o episódio conhecido como Massacre do Carandiru, em São Paulo, em 1992, que terminou com 111 presos mortos.
Como resultado da rebelião na capital do Amazonas, o governo federal decidiu antecipar a apresentação de um Plano Nacional de Segurança Pública, que visa a combater o crime organizado e modernizar a gestão de presídios.
(Reportagem adicional de Alonso Soto, em Brasília, e Brad Brooks, em São Paulo)