(Reuters) - Você já ouviu a piada sobre os índices de aprovação de Vladimir Putin?
Fazer piadas sobre o presidente da Rússia é um assunto delicado hoje em dia nos clubes de comédia de Moscou, onde os artistas dizem que caminham em uma linha tênue em um país em guerra.
"De modo geral, você pode fazer piada sobre qualquer assunto -- o importante é como, para não ferir os sentimentos de alguém ou criar conflitos na sala", diz o comediante de stand-up Ivan Garkushko.
"Porque há opiniões muito polares, e não vale a pena tocar em assuntos dolorosos... Você precisa se autoeditar: não esperar pela edição e censura de alguém superior, mas sentir onde está esse limite para si mesmo e entender o que é permitido e o que não é."
O também comediante Boris Zeliger diz que uma piada politicamente arriscada "geralmente não provoca uma risada, mas causa uma reação do tipo 'Uau, audacioso!'".
Por esse motivo, ele se inclina mais para o humor sobre homens e mulheres e relacionamentos. "Os comediantes que escrevem piadas sobre o assunto do dia, de um ponto de vista político, geralmente emigram".
Foi exatamente isso que os fundadores da Comigration fizeram -- um pequeno coletivo de comediantes que deixou a Rússia desde a invasão da Ucrânia em 2022 e agora trabalha na Geórgia.
O contraste em seu material é impressionante. De acordo com um deles, Ilya Ovechkin, qualquer referência a Putin em uma piada aumenta as risadas em 70%.
Na Rússia, as leis introduzidas desde a invasão tornaram crime "desacreditar" as Forças Armadas ou divulgar o que o governo considera "informações falsas" sobre elas.
Ovechkin afirma que está feliz por ter escapado de um ambiente em que "as paredes estão se fechando".
"Por exemplo, você está se apresentando e há um cara na plateia que acabou de voltar (da guerra) e perdeu a sanidade. E ele interfere na apresentação, grita -- isso acontece com frequência com essas pessoas."
"E você entra em algum tipo de discussão com ele, tenta fazer uma piada do palco e dar risada para que ele se acalme, e isso pode desencadear e causar problemas para você. Você pode levar um soco na cara sem ter contado uma única piada política."
Ariana Lolaeva, cofundadora da Comigration, que foi multada no ano passado por "desacreditar" do Exército em uma publicação em rede social, diz que, desde que deixou a Rússia, ela se "soltou" para se apresentar com mais liberdade.
E a piada sobre Putin?
"Acabei de ver uma estatística de que 60% de todas as mulheres na Rússia tiveram pelo menos um sonho erótico com Putin", disse ela ao público em uma apresentação recente.
"Pense nisso, 60%. Até essa pesquisa ele manipulou!"
(Reportagem da Reuters)