Por Sarah Marsh e Petra Wischgoll
BERLIM/COLÔNIA (Reuters) - Os protestos contra o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) estão ganhando força após a divulgação de que dois membros do alto escalão do partido participaram de uma reunião para discutir planos de deportação em massa de cidadãos de origem estrangeira.
Embora o partido há muito tempo se oponha aos imigrantes, as propostas de deportação de "cidadãos não assimilados" para "um Estado modelo no norte da África", relatadas pelo canal Correctiv, atingiram um ponto sensível na Alemanha. Alguns os compararam ao plano inicial dos nazistas de deportar os judeus europeus para Madagascar.
"O limite já foi ultrapassado há muito tempo", disse o manifestante Stephan Kalsh em uma manifestação em Colônia na noite de terça-feira, onde muitos manifestantes pediram que o partido fosse banido.
Essa foi a última de uma onda de protestos em todo o país que atraiu dezenas de milhares de pessoas desde que a história foi divulgada na semana passada. Alguns contaram com a presença de autoridades de alto escalão, como o chanceler Olaf Scholz e a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock.
O AfD, que está em segundo lugar nas pesquisas nacionais, negou que os planos sejam uma política do partido. A co-líder Alice Weidel demitiu um de seus assessores que participou das conversas.
Ainda assim, o chefe de espionagem interna da Alemanha, Thomas Haldenwang, alertou sobre movimentos extremistas dentro do AfD, que está sob vigilância de segurança.
Os relatos sobre os planos atraíram a condenação generalizada de líderes políticos e de segurança. Scholz fez um apelo aos democratas para se posicionarem contra os "fanáticos" de extrema-direita, enquanto Haldenwang pediu que a "maioria silenciosa" acordasse.
Imagens de milhares de cidadãos enfrentando temperaturas abaixo de zero e neve para protestar contra o AfD em cidades de todo o país sugerem que eles podem estar acordando.
"Nazistas, não, obrigado", "Parece 1933, banimento da AfD agora!" e "Investiguem o banimento da AfD" eram as faixas em um protesto em Berlim na última sexta-feira.
Outros protestos foram programados para o final da quarta-feira em Berlim e para a sexta-feira em Hamburgo.
ELEIÇÕES SE APROXIMAM NO LESTE DA ALEMANHA
Na terça-feira, Weidel atacou o que ela chamou de uso do relatório Correctiv para deturpar o AfD. Ela disse que o partido pretendia esgotar todos os meios legais para evitar a imigração ilegal, restringir as nacionalizações e deportar os imigrantes suspeitos de terrorismo.
"Quem tem cidadania alemã pertence, sem dúvida, à nação alemã", disse Weidel em uma coletiva de imprensa. "E é exatamente por isso que a cidadania alemã não pode ser vendida a preço baixo e distribuída com um regador."
O partido passou a se mobilizar mais neste ano, antes das eleições para o Parlamento Europeu e das três eleições estaduais no leste da Alemanha em setembro, onde está em primeiro lugar nas pesquisas. Espera-se que isso torne muito mais difícil para os partidos tradicionais, que descartaram a possibilidade de trabalhar com o AfD, formar governos viáveis.
O apoio ao AfD, que tem 11 anos de existência, aumentou muito no último ano, pois capitalizou o descontentamento com a forma como a coalizão governista lidou com uma série de crises, desde a guerra na Ucrânia e a inflação até os serviços públicos sobrecarregados pela imigração.
As brigas públicas internas tornaram o governo de Scholz um dos menos populares da história moderna da Alemanha.
Ainda não há evidências de que o relatório Correctiv tenha prejudicado o apoio ao AfD, que permaneceu estável nas pesquisas divulgadas esta semana.
Analistas políticos afirmam que a força do AfD já influenciou o debate político, contribuindo para uma política e retórica mais rígidas em relação à imigração irregular.
Nesta semana, os políticos discutiram a possibilidade de pedir ao tribunal constitucional que proíba o AfD, embora a maioria tenha concordado que isso poderia não dar certo. Os obstáculos para uma proibição são grandes e o partido poderia ganhar ao se apresentar como vítima do establishment.
(Reportagem de Sarah Marsh, Petra Wischgoll, Tanya Wood e Andreas Rinke)