ANCARA (Reuters) - A noiva do jornalista saudita assassinado Jamal Khashoggi descreveu a sentença de cinco pessoas condenadas à morte por ligação com o assassinato como injusta e inválida, acrescentando que a execução ocultará ainda mais a verdade.
Khashoggi desapareceu depois de ir ao consulado saudita em Istambul em 2 de outubro de 2018 para obter documentos para seu casamento. O corpo dele foi desmembrado e removido do prédio, e seus restos mortais não foram encontrados.
Na segunda-feira, um tribunal saudita condenou cinco pessoas à morte e três à prisão pelo assassinato, e rejeitou acusações contra outras três, considerando-as inocentes. Um investigador da ONU acusou Riad de zombar da justiça por absolver figuras importantes que podem ter ordenado o assassinato.
O tribunal saudita rejeitou as conclusões de um inquérito da ONU ao decidir que o assassinato não foi premeditado, mas realizado "no calor do momento".
Hatice Cengiz, noiva de Khashoggi, estava esperando do lado de fora do consulado quando ele entrou para pegar os documentos.
Em um comunicado divulgado nesta terça-feira, Cengiz disse que o julgamento não revelou por que os condenados mataram Khashoggi, uma vez que o julgamento foi realizado a portas fechadas.
"Se essas pessoas forem executadas sem chance de falar ou se explicar, talvez nunca saibamos a verdade por trás deste assassinato", afirmou ela.
"Estou pedindo a todas as autoridades do mundo que condenem esse tipo de decisão judicial e impeçam urgentemente qualquer execução, porque isso seria apenas mais um passo para ocultar a verdade."
O assassinato de Khashoggi, residente nos Estados Unidos e crítico do príncipe Mohammed bin Salman, causou protestos globais, e alguns governos ocidentais, assim como a CIA, disseram acreditar que o príncipe ordenou o assassinato.
Autoridades sauditas dizem que ele não teve nenhum papel no crime, mas em setembro o príncipe herdeiro indicou alguma responsabilidade pessoal, dizendo que "isso aconteceu sob minha vigilância".
Após o veredito de segunda-feira, uma fonte familiarizada com avaliações de inteligência dos EUA disse que as principais agências governamentais dos EUA rejeitaram a validade dos procedimentos judiciais e os especialistas da CIA ainda acreditavam que o príncipe Mohammad ordenou pessoalmente, ou pelo menos aprovou, o assassinato.
A fonte afirmou que os cinco homens condenados à morte eram essencialmente soldados de infantaria, enquanto dois oficiais de segurança absolvidos desempenharam um papel mais significativo.
(Reportagem de Yesim Dikmen, Tuvan Gumrukcu e Ece Toksabay)