Por Erik Kirschbaum
BERLIM (Reuters) - O melhor da Alemanha e do seu tratamento humanitário aos refugiados estão à mostra junto com o pior da Alemanha e os seus ofensivos surtos de racismo contra estrangeiros num novo e fascinante filme que tem a première na quinta-feira.
"Willkommen bei den Hartmanns" (Bem-vindo aos Hartmanns) é tanto uma comédia quanto uma tragédia, apresentando importantes atores alemães e um olhar divertido sobre como alemães comuns estão lidando com a chegada de um milhão de refugiados desde meados de 2015.
Uma diretora de escola aposentada interpretada por Senta Berger se oferece para ajudar a ensinar alemão num centro de refugiados e termina convencendo o seu marido cético a abrigar um refugiado, um homem da Nigéria, na casa deles numa região nobre de Munique.
A família fica a princípio bastante dividida por ela receber de braços abertos o refugiado, interpretado por Eric Cabongo, da Bélgica, mas logo acolhe o homem e o seu idioma alemão precário e charmoso, apesar de os vizinhos e racistas de direita mais tarde realizarem barulhentas vigílias em protesto do lado de fora do local onde eles moram.
As tensões no filme refletem o exame nacional de consciência que os alemães experimentam desde que a chanceler Angela Merkel abriu os portões em setembro de 2015 para refugiados que fugiam da guerra e dos distúrbios na Síria, Iraque, Afeganistão, entre outros lugares.
Primeiramente, os alemães celebraram a chegada dos refugiados à medida que eles tomavam o país. Contudo, o clima mudou depois de uma série de ataques contra mulheres em Colônia e outras cidades no Ano Novo e ataques militantes por refugiados inspirados no Estado Islâmico. Merkel tem sido responsabilizada, e o partido conservador dela tem sofrido derrotas duras em eleições regionais.
"Nós, alemães, somos ainda tão inibidos sobre a nossa própria identidade, apesar de nós termos um grande país, livre e tolerante”, diz Elyas M’Barek, um alemão de origem tunisiana, num determinado momento do filme, insistindo para que a sua namorada se sinta orgulhosa do país. “Temos que nos levantar e defender esses valores.”
O filme retrata todo o leque de refugiados: daqueles que querem se integrar e aprender alemão a outros apegados as suas culturas, de grupos de homens jovens sem remorsos de atacar mulheres em públicos a um militante preso do Estado Islâmico.
Simon Verhoeven, diretor do filme que também tem no elenco Heiner Lauterbach, Florian David Fitz e Uwe Ochsenknecht, começou a trabalhar em 2015 pouco antes do aumento do número dos que buscavam asilo e reescreveu o roteiro várias vezes.
"De uma hora para outra, as pessoas estavam discutindo apenas um tema na mesa do jantar”, disse Verhoeven a um jornal nesta segunda-feira. “As divisões em cada família refletiram as cisões na sociedade na Alemanha. Foi uma maldição e uma benção de uma só vez.”