Por Tami Chappell e Roberta Rampton
ATLANTA/WASHINGTON (Reuters) - Depois que a segunda de duas enfermeiras infectadas enquanto tratavam um paciente com Ebola deixou um hospital de Atlanta, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta terça-feira que as políticas adotadas por seu país não deveriam desestimular os norte-americanos dispostos a combater o surto na África Ocidental.
Foi a primeira manifestação de Obama desde que Estados como Nova York e Nova Jersey impuseram quarentenas automáticas de 21 dias, tempo máximo de incubação do vírus, a médicos e enfermeiras que voltarem dos três países mais afetados pela epidemia, regras que extrapolam as diretrizes federais.
"Não queremos desencorajar nossos agentes de saúde a ir para as frentes de combate e lidar com isto de maneira eficaz", declarou Obama a repórteres no gramado sul da Casa Branca.
Obama afirmou que estes profissionais, muitas vezes voluntários de grupos humanitários internacionais, deveriam ser "aplaudidos, apoiados e receber agradecimentos".
"E podemos fazer com que, quando voltarem, sejam monitorados de forma prudente. Mas queremos fazer com que se entenda que estão lá trabalhando para Deus. E estão fazendo isso para nos manter a salvo", acrescentou.
Alguns Estados impuseram suas próprias salvaguardas, como quarentenas obrigatórias para médicos e enfermeiras vindos da Libéria, de Serra Leoa e da Guiné, argumentando que as medidas federais não protegem o público adequadamente. Alguns parlamentares, especialmente republicanos, classificaram a reação do governo Obama de inepta.
Autoridades de saúde federais e outras criticaram as medidas mais rígidas por serem potencialmente contraproducentes, dizendo que podem impedir médicos norte-americanos e outros profissionais de saúde de se oferecerem para ajudar a combater o surto em sua origem no oeste africano.
"Não queremos fazer coisas que não são baseadas na ciência e nas melhores práticas, porque senão só estamos colocando mais um obstáculo para alguém que já está fazendo um trabalho importante por nossa causa", declarou o mandatário, observando que conter o surto na África protegerá mais os cidadãos de seu país do Ebola.
QUARENTENAS
A primeira pessoa posta em quarentena de acordo com a política de Nova Jersey foi Kaci Hickox, enfermeira que testou negativo para o vírus, mas ficou isolada durante dias na tenda de um hospital de Newark. Ela disse que seus "direitos constitucionais básicos" foram violados.
Em outro sinal de como os temores do Ebola afetaram muitas comunidades, um pai processou uma escola primária de Connecticut nesta terça-feira alegando que sua filha foi discriminada e expulsa da escola por ter comparecido a um casamento na Nigéria.
Em Atlanta, a enfermeira Amber Vinson, de 29 anos, foi liberada do Hospital Universidade Emory depois de ser declarada livre da doença na sexta-feira passada. Obama disse ter conversado com Vinson por telefone nesta terça-feira.
A outra enfermeira, Nina Pham, de 26 anos, que trabalhava no hospital Texas Health Presbyterian, de Dallas, também teve diagnóstico negativo para o vírus na sexta-feira, foi liberada no mesmo dia e se encontrou com Obama no Salão Oval da Casa Branca.
No momento em que as preocupações com a disseminação da febre hemorrágica aumentam, o Pentágono anunciou que o secretário de Defesa, Chuck Hagel, cogita uma recomendação dos principais comandantes militares: um período "estilo quarentena" de monitoramento de 21 dias para todos os soldados norte-americanos voltando ao país depois de participar dos esforços de reação ao Ebola no oeste da África.
O anúncio se segue a outro, de segunda-feira, do Exército, informando que está isolando soldados recém-chegados de sua missão africana em sua base em Vicenza, no nordeste da Itália, embora não exibam sintomas da infecção, nem se acredite que tenham sido expostos ao vírus.
(Reportagem adicional de Colleen Jenkins, Doina Chiacu, Chris Helgren, Roberta Rampton, Phil Stewart e David Alexander)