Por Lusha Zhang e Stephanie Nebehay
PEQUIM/GENEBRA (Reuters) - A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quinta-feira o surto de coronavírus na China, que já matou 170 pessoas no país, como uma emergência global, após casos serem registrados em 18 países.
Os Estados Unidos reportaram o primeiro caso de transmitido de uma pessoa para outra, se tornando o quinto país fora da China a fazê-lo. Especialistas dizem que casos de transmissão de uma pessoa para outra fora da China são especialmente preocupantes pois sugerem um potencial ainda maior de propagação.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse em entrevista coletiva em Genebra que as últimas semanas viram um surto sem precedentes que foi recebido com uma resposta também sem precedentes.
"Que fique claro que essa declaração não é um voto de desconfiança em relação à China", disse. "Nossa maior preocupação é o potencial do vírus de se espalhar em países com sistemas de saúde mais fracos."
A declaração de emergência global dispara recomendações a todos os países e tem o objetivo de prevenir ou reduzir a propagação da doença para além das fronteiras nacionais, ao mesmo tempo evitando interferências desnecessárias no turismo e no comércio.
A vasta maioria dos mais de 7.800 casos detectados no planeta, de acordo com os últimos dados da OMS, aconteceu na China, onde o vírus se originou em um mercado ilegal de animais silvestres na cidade de Wuhan.
Mas aproximadamente 100 casos surgiram em outros países, o que provocou restrições a viagens, demonstrações de sentimentos anti-China em alguns lugares e um aumento brusco na demanda por máscaras faciais de proteção.
Autoridades dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos disseram que o vírus, análogo ao da gripe, foi confirmado em um homem no Estado de Illinois, trazendo o número total de casos nos EUA para seis. A esposa do homem, que também estava infectada, havia viajado anteriormente à China, mas ele não.
CONTROLE MAIS RÍGIDO
A OMS evitou por duas vezes na semana passada declarar a epidemia uma emergência global. A medida desta quinta-feira irá provocar restrições mais rígidas e orientações de compartilhamento de informação, mas pode desapontar Pequim, que já expressou sua confiança de que pode vencer o vírus "demoníaco".
Jeremy Farrar, diretor da Wellcome Trust, afirmou que a decisão da OMS estava "absolutamente correta".
"A declaração de uma emergência internacional irá sem dúvidas aprimorar o foco dos governos para proteger seus cidadãos", disse Farrar.
As medidas necessárias de saúde pública serão um "desafio" para todos os países, mas serão especialmente difíceis para países de renda mais baixa", acrescentou.
O vírus se espalhou rapidamente desde que a o Comitê de Emergências da OMS se reuniu na semana passada. Mas nenhuma morte foi reportada fora da China e o vírus ainda não foi detectado na África.
O número total de infecções já superou o total da epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) de 2002-2003.
A Sars também veio da China, matando cerca de 800 pessoas e custando à economia global estimados 33 bilhões de dólares.
Economistas temem que o impacto poderia ser maior já que a China agora representa uma porção maior da economia mundial. Os mercados estão assustados desde que as notícias do vírus surgiram no mês passado.