Por Emma Farge
GENEBRA (Reuters) - A agência de refugiados da ONU está enfrentando um dos momentos mais difíceis em seus mais de 70 anos de história, uma vez que os deslocamentos recordes coincidem com a falta de financiamento e um foco "míope" nos controles de fronteira, disse nesta segunda-feira o chefe da organização.
Em um discurso para o corpo diretivo do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), o alto comissário Filippo Grandi pediu aos países que respeitem os direitos das pessoas que fogem de conflitos ou perseguições garantidos pela Convenção sobre Refugiados de 1951, e que o órgão foi criado para supervisionar.
"Estou pedindo solenemente que se concentrem pelo menos nas áreas em que podemos concordar e, especialmente, que as pessoas forçadas a fugir de suas casas devido a conflitos ou perseguições tenham direitos como seres humanos e como refugiados e deslocados", disse ele ao comitê-executivo do Acnur, que se reúne anualmente e é composto por 108 países-membros.
"A tarefa que vocês confiaram ao Acnur está em um dos momentos mais difíceis da nossa história", disse ele. "O mundo está cada vez mais dividido, fragmentado e voltado para dentro"
Ele chamou o ataque deste fim de semana de homens armados do Hamas contra Israel de "terrível" e disse que os confrontos correm o risco de "trazer grave instabilidade", sem fornecer projeções de deslocamento.
A organização enfrenta um déficit de financiamento de 650 milhões de dólares este ano e a perspectiva para 2024 é "ainda mais preocupante", acrescentou.
Os principais doadores do Acnur são os Estados Unidos e a Alemanha.
A ajuda insuficiente está levando alguns refugiados -- como aqueles que fugiram do conflito no Sudão -- a fazer viagens perigosas para a Tunísia e a Itália, disse ele, comparando a situação com a crise migratória da União Europeia de 2015.
"Isso nos lembra, infelizmente, a situação de 2015, quando milhares de sírios e outros refugiados se mudaram do Oriente Médio para a Europa quando a assistência começou a diminuir", disse Grandi, que é italiano.
Com o alto índice de fatalidades em duas das rotas de migração mais perigosas do mundo, o Darien Gap e a travessia do mar Mediterrâneo para a Europa, Grandi pediu novas soluções para "toda a rota".
Ele disse que os países têm o direito de implementar controles de fronteira, mas descreveu como "impraticável e míope" concentrar-se apenas nesses controles. Ele não citou nomes de países.
Em uma possível alusão a um plano do governo britânico de deportar os solicitantes de asilo para Ruanda, que será levado ao tribunal superior do Reino Unido nesta semana, Grandi disse que a organização "não aceitará a externalização ou a terceirização das obrigações de asilo".