Por Nina Chestney e Stephanie Nebehay
LONDRES/GENEBRA (Reuters) - O consumo global de carne precisa diminuir para conter o aquecimento global, reduzir a pressão crescente sobre a terra e a água e melhorar a segurança alimentar, a saúde e a biodiversidade, concluiu um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os efeitos da mudança climática.
Embora o relatório não tenha defendido explicitamente que se evite a carne, o texto pediu grandes mudanças nos hábitos de plantio e alimentação para limitar o impacto do crescimento populacional e das mudanças dos padrões de consumo sobre os recursos terrestres e hídricos, já sobrecarregados.
Alimentos à base de plantas e alimentos de base animal sustentáveis poderiam liberar vários milhões de quilômetros quadrados de terra até 2050 e cortar de 0,7 a 8 gigatoneladas anuais de equivalentes de dióxido de carbono, disse o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC).
"Há certos tipos de dieta que têm uma pegada de carbono mais baixa e colocam menos pressão na terra", explicou Jim Skea, professor do Imperial College de Londres, nesta quinta-feira.
O IPCC se reuniu nesta semana em Genebra, na Suíça, para finalizar seu relatório, que deveria ajudar a orientar governos que se reúnem neste ano no Chile a respeito de maneiras de implantar o Acordo de Paris de 2015.
"O IPCC não recomenda dietas às pessoas... as escolhas dietéticas muitas vezes são moldadas ou influenciadas por práticas locais de produção e hábitos culturais", disse Skea, um dos autores do relatório, aos repórteres em Genebra.
A terra pode ser uma fonte e um escoadouro de dióxido de carbono, o principal gás de efeito estufa ao qual se atribui o aquecimento global, e uma administração melhor da terra pode ajudar a se lidar com a mudança climática, disse o IPCC.
Mas não se trata da única solução, e cortar emissões de todos os setores é essencial para reduzir rapidamente o aquecimento global.
"A janela para fazer estas mudanças está se fechando rápido. Se houver mais atraso na redução de emissões, perderemos a oportunidade de administrar com sucesso a transição da mudança climática no setor agrícola".
Desde a era pré-industrial, a temperatura do ar na superfície da terra subiu 1,53 grau Celsius, o dobro da temperatura global média de 0,87ºC, causando mais ondas de calor, secas e chuvas fortes, além da degradação do solo e da desertificação.
O uso humano afeta diretamente mais de 70% da superfície terrestre global livre de gelo, e a agricultura consome 70% da água doce, acrescentou o IPCC no relatório.
(Reportagem adicional de Megan Rowling)