GAZA/JERUSALÉM (Reuters) - A ONU, os Estados Unidos e o Canadá fizeram um apelo nesta terça-feira por uma pausa humanitária na guerra entre Israel e Hamas para permitir entregas seguras de ajuda humanitária a civis com falta de alimentos, água, remédios e eletricidade na Faixa de Gaza sitiada por Israel.
A pressão internacional por ajuda desimpedida a Gaza aumentou quando o Ministério da Saúde do território costeiro governado pelo Hamas afirmou que os ataques aéreos israelenses mataram mais de 700 palestinos durante a noite. O porta-voz do ministério, Ashraf Al-Qidra, disse que este foi o maior número de mortos em 24 horas no cerco de Israel, que já dura duas semanas.
As agências da ONU estavam implorando “de joelhos” para que a ajuda de emergência fosse liberada para Gaza sem impedimentos, dizendo que é necessário um número 20 vezes maior do que as entregas atuais para apoiar os 2,3 milhões de habitantes do estreito território em meio à devastação generalizada causada pela ofensiva aérea de Israel.
Oito caminhões contendo água, alimentos e remédios entraram na Faixa de Gaza vindos do Egito na noite de terça-feira, informou o Crescente Vermelho Palestino.
Os Estados Unidos estão negociando com Israel, o vizinho Egito e a ONU para facilitar as entregas de emergência a Gaza, e têm discutido sobre os procedimentos de inspeção das remessas de ajuda humanitária e sobre os bombardeios na região de fronteira no lado de Gaza.
“Embora continuemos sendo contra um cessar-fogo, pensamos que vale a pena considerar pausas humanitárias ligadas à entrega de ajuda e que ainda permitam a Israel conduzir operações militares para se defender”, disse uma autoridade dos EUA.
O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, disse após uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas que Israel parecia estar acima da lei internacional, e pediu o fim do que chamou de "padrões duplos" para lidar com o conflito de Gaza.
Em um comunicado divulgado nas redes sociais, o Ministério da Saúde palestino disse que pelo menos 5.791 palestinos foram mortos por bombardeios israelenses desde 7 de outubro, entre eles 2.360 crianças. Cerca de 704 pessoas foram mortas apenas nas 24 horas anteriores, disse.
A Reuters não conseguiu verificar de forma independente os números do ministério.
ISRAEL ATINGE ALVOS DO HAMAS
As forças militares israelenses disseram que mataram dezenas de combatentes do Hamas durante a noite, já que teriam atingido mais de 400 alvos do Hamas, mas que levaria tempo para destruir o grupo militante islâmico cujo ataque mortal além da fronteira em 7 de outubro surpreendeu Israel.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou nesta terça-feira para que os civis sejam protegidos, expressando preocupação com “violações claras do direito humanitário internacional” em Gaza.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse ao Conselho de Segurança: “Os civis palestinos não são culpados pela carnificina cometida pelo Hamas”, fazendo referência à morte de 1.400 pessoas, principalmente civis, pelos militantes, e à captura de mais de 200 em um ataque violento às comunidades israelenses próximas de Gaza.
"Os civis palestinos devem ser protegidos. Isso significa que o Hamas deve parar de usá-los como escudos humanos... Significa que Israel deve tomar todas as precauções possíveis para evitar danos aos civis", disse Blinken.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, concordou com Blinken.
“Há muitas conversas acontecendo agora sobre a necessidade de pausas humanitárias e acho que isso é algo que o Canadá apoia”, disse ele a jornalistas em Ottawa. “Devemos permanecer ancorados nas prioridades de proteger (pessoas) inocentes e libertar os reféns.”
A Organização Mundial da Saúde, no último dos apelos cada vez mais desesperados da ONU, clamou por “um cessar-fogo humanitário imediato” para impedir o fim dos suprimentos de alimentos, medicamentos e abastecimento de combustível em Gaza.
Médicos em Gaza dizem que os pacientes que chegam aos hospitais apresentam sinais de doenças causadas pela superlotação e falta de saneamento, depois de mais de 1,4 milhão de pessoas terem fugido de suas casas para abrigos temporários sob o bombardeio mais pesado de todos os tempos realizado por Israel à região.
Todos os hospitais dizem que estão ficando sem combustível para alimentar os seus geradores de eletricidade, o que os deixa cada vez mais incapazes de tratar os feridos e doentes. Mais de 40 centros médicos interromperam as operações, disse um porta-voz do Ministério da Saúde.
(Reportagem de Nidal al-Mughrabi em Gaza e Ari Rabinovitch em Jerusalém; reportagem adicional de Matt Spetalnick, Steve Holland, Rami Ayyub, Doina Chiacu, Susan Heavey e Humeyra Pamuk em Washington; Dan Williams e Emily Rose em Jerusalém; Moaz Abd-Alaziz no Cairo)