Por Stephanie Nebehay
GENEBRA (Reuters) - Os países em desenvolvimento, e não as nações ocidentais ricas, estão arcando com a maior parte da crise mundial de refugiados, uma vez que dão abrigo ao número recorde de 70,8 milhões de pessoas que fugiram de guerras e perseguições, disse a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quarta-feira.
Metade das pessoas deslocadas à força em todo o mundo são crianças, e a cifra total de 2018 é a mais alta em quase 70 anos, disse a agência de refugiados da ONU em seu relatório anual Tendências Globais.
Mas esta cifra, que inclui 25,9 milhões de refugiados, 41,3 milhões de pessoas deslocadas dentro de seus países e 3,5 milhões de postulantes a asilo, é "conservadora", disse o relatório.
O número não inclui a maioria dos 4 milhões de venezuelanos que fugiram para o exterior desde 2015, já que estes não precisam de vistos nem solicitar pedidos de asilo para permanecer na maioria dos países que os acolhem. Se este fluxo continuar, um total de 5 milhões de venezuelanos poderá ter partido até o final do ano, segundo o documento.
"Certamente, se a situação não for resolvida politicamente na Venezuela, com um acordo político, veremos uma continuação deste êxodo", disse Filippo Grandi, alto comissário da ONU para os Refugiados, em um boletim à imprensa.
Os venezuelanos, cuja maioria ruma para Colômbia, Peru e Equador, formaram o segundo maior fluxo para o exterior no ano passado, só atrás dos sírios em fuga para a Turquia após oito anos de guerra, disse o relatório.
"Quando se diz que a Europa tem uma emergência de refugiados, ou os Estados Unidos, ou a Austrália – não. A maioria dos refugiados está de fato no país perto de onde a guerra está, e infelizmente isso significa a maioria em países pobres ou países de renda média", explicou Grandi.
"É aí que a crise está, é aí que devemos nos concentrar", acrescentou.
Mais de dois terços dos refugiados do mundo vêm de cinco nações: Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Mianmar e Somália, de acordo com o relatório.
O presidente dos EUA, Donald Trump, fez da redução da imigração ilegal na fronteira com o México uma de suas principais políticas de governo. Os centro-americanos que chegam aos EUA depois de fugirem da violência e da perseguição na Guatemala, Honduras e El Salvador têm direito de pedir asilo, disse Grandi.
O país é o que mais recebe pedidos de asilo – foram 254.300 em 2018, disse o relatório.
Na Europa, a questão foi altamente politizada, fazendo alguns governos se sentirem "aterrorizados" de se comprometer a receber pessoas resgatadas no mar depois de fugirem da Líbia ou de outras zonas de conflito, disse Grandi.