TAPACHULA, México (Reuters) - Muitos dos imigrantes da América Central que faziam fila em um escritório de apoio a refugiados no sul do México disseram que podem abandonar seus planos de chegar aos Estados Unidos, ficando no México, se o presidente norte-americano, Donald Trump, aumentar a repressão contra a imigração.
O México está intensificando a segurança em sua fronteira sul com a Guatemala, como parte de um acordo com Washington, depois que Trump ameaçou impor tarifas aos produtos mexicanos caso o governo de Andrés Manuel López Obrador não contivesse o fluxo de imigrantes que alcançam os EUA.
O México concordou também em ampliar um programa iniciado em janeiro que obriga os imigrantes a esperarem no México pelo resultado de pedidos de asilo nos EUA.
Na quinta-feira, os Estados Unidos começaram a aumentar o ritmo de retorno dos solicitantes de asilo para o México.
Além disso, caso o México não contenha os fluxos imigratórios até meados de julho, deve se tornar um "terceiro país seguro", onde os solicitantes de asilo teriam que se refugiar em vez de irem para os EUA.
No estado de Chiapas, no sul do México, o sobrecarregado escritório de ajuda a refugiados, chamado Comar, na cidade de Tapachula, tem observado um aumento nos pedidos de asilo.
Esse é um dos três escritórios do tipo no país. As pessoas que esperavam na fila do lado de fora do Comar disseram que se arriscariam a ficar no México caso a única alternativa fosse retornar para uma América Central assolada pela violência.
Milhares de famílias fugiram da pobreza e da criminalidade sem controle em Honduras, El Salvador e Guatemala no último ano, atravessando o México em direção aos EUA.
"Se não tivermos outra opção, sim, poderíamos ficar no México, porque realmente para Honduras não podemos voltar", disse Dagoberto, de 34 anos, à espera na fila, ao lado de seu companheiro, José.
Dagoberto disse que foi ameaçado em Honduras depois que uma quadrilha tomou conta do negócio em que trabalhava. Ele foi ao Comar pedir um visto humanitário que lhe permita chegar aos EUA.
Dagoberto e José, que esperam se casar ao chegar aos EUA, não quiseram revelar seus sobrenomes, alegando que o grupo criminoso que os fez fugir de Honduras é internacional.
Nidia Martínez e seus três filhos dormiram três noites na calçada em frente ao escritório do Comar, onde ela busca autorização que lhe permita viajar para a fronteira dos EUA.
"Quero chegar aos Estados Unidos. Se não puder, então o México é um bom lugar para viver", disse ela, que contou ter uma maior sensação de segurança desde que chegou a Tapachula.
"Em Honduras, não se pode viver porque te roubam, te estupram ou te matam", disse Martínez, de 28 anos, com alívio pelo fato de que ela e seus filhos ainda não foram agredidos na cidade mexicana que faz fronteira com a Guatemala.
A segurança dela, contudo, decorria de dormir em frente ao escritório de refugiados. Os migrantes em outras partes da cidade e em todo o México com frequência são vítimas de extorsão, sequestro e de funcionários corruptos do governo.
(Por Hugh Bronstein, reportagem adicional Delphine Schrank)