Por Gabriela Baczynska
BRUXELAS (Reuters) - Importantes parlamentares da União Europeia pediram nesta quarta-feira a suspensão formal das conversas sobre a filiação da Turquia ao bloco, travadas há tempos, citando os planos do presidente turco, Tayyip Erdogan, de assumir poderes muito maiores graças a um referendo deste mês que aprovou uma reforma constitucional.
Em uma entrevista concedida à Reuters na terça-feira, Erdogan disse que a Turquia não irá esperar para sempre para se unir à UE. O Executivo da UE pediu aos ministros das Relações Exteriores da Europa que cogitem outros tipos de laços com Ancara quando se reunirem na sexta-feira.
"É hora de reavaliar nossos relacionamento com a Turquia. A filiação plena não é algo realista. Precisamos pôr fim a essa hipocrisia", disse Manfred Weber, líder da maior facção da legislatura da UE, o Partido Popular Europeu, de centro-direita.
Os vínculos dos membros da UE com a Turquia, uma aliada da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), deterioraram-se devido às preocupações com os direitos humanos na esteira da repressão abrangente de Erdogan contra supostos apoiadores de um golpe militar fracassado de julho passado. Dezenas de milhares de pessoas, incluindo soldados, juízes, professores e servidores civis, foram presas ou demitidas.
Erdogan também enfureceu a Alemanha e a Holanda durante a campanha do referendo por dizer que estes estavam se comportando como nazistas por proibir alguns comícios de ministros turcos em seus territórios. Berlim e Haia mencionaram temores com a segurança.
A Áustria vem pedindo há tempos que se descarte de vez a proposta de ingresso da Turquia na UE, mas muitos outros integrantes do bloco estão sendo mais cautelosos por estarem cientes de que a união precisa da ajuda de Ancara para conter o fluxo de refugiados e imigrantes vindos do Oriente Médio.
Kati Piri, parlamentar holandesa de centro-esquerda que supervisiona o processo turco, criticou o plano de concessão de poderes excepcionais a Erdogan. Críticos dizem que isso irá minar a democracia e sufocar a liberdade de expressão na Turquia.
"Como a Turquia, com tal Constituição, não pode se tornar um membro da UE, não faz nenhum sentido continuar a discussão sobre a integração. A UE deveria suspender oficialmente as conversas sobre a filiação se as mudanças constitucionais forem implantadas sem alterações", disse Piri.
Outros integrantes do Parlamento Europeu ecoaram sua opinião, argumentando que o bloco precisa forjar um relacionamento diferente com a Turquia no tocante a comércio, segurança e migração.
"Pode ser um relacionamento mais difícil, mas será um relacionamento mais honesto. Mais cauteloso. Mais crítico. Concentrado mais na cooperação e não mais na meta distante da filiação à UE", disse o conservador britânico Syed Kamall.
Piri disse que qualquer suspensão deveria ocorrer apenas se e quando a "Constituição autoritária" entrar em vigor, o que vai ocorrer depois que a Turquia realizar sua próxima eleição, marcada para o final de 2019.