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Partygate, Brexit e troca de premiê: o declínio do partido Conservador no Reino Unido

Publicado 04.07.2024, 08:00
© Reuters.  Partygate, Brexit e troca de premiê: o declínio do partido Conservador no Reino Unido

O Partido Conservador, do atual primeiro-ministro Rishi Sunak, deve perder o poder no Reino Unido pela 1ª vez desde 2010. A pior derrota em décadas, se confirmada nesta 5ª feira (4.jul.2024), deve-se principalmente à instabilidade interna do partido nos últimos anos.

Depois de 14 anos de governo e 5 mudanças na liderança, as pesquisas indicam que a legenda perderá para o partido Trabalhista, de centro-esquerda, comandado por Keir Starmer.

A eleição desta 5ª feira (4.jul) foi antecipada por Sunak em maio, em uma tentativa desesperada de salvar a maioria de direta no Parlamento. Na ocasião, o premiê afirmou que acelerou a votação para conferir se os britânicos desejam encorajar seus planos de progresso econômico ou confiar em um novo governo.

A estratégia não deve funcionar. Pesquisa YouGov divulgada na 4ª feira (3.jul) aponta que o trabalhistas têm 39% das intenções de voto, contra 22% dos conservadores. O Reform UK (ex-Partido do Brexit), mais à direita, soma 15% e também deve tirar cadeiras dos tories (como são conhecidos os integrantes do Partido Conservador).

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Para Kai Enno Lehmann, professor de relações internacionais na USP, Sunak entendeu que as chances do partido eram baixas, e por essa razão optou por antecipar o pleito antes que a situação piorasse.

“Sunak não vai mudar de personalidade. Ele estaria perdendo independentemente da data das eleições, a questão é o tamanho da derrota“, disse Lehmann em entrevista ao Poder360.

O era do Partido Conservador no poder começou com um governo de coalizão liderado por David Cameron, que ficou no cargo até 2016. Foram mais 4 premiês desde então: Theresa May (2016-2019), Boris Johnson (2019-2022), Liz Truss (2022) e Sunak. A legenda, agora enfraquecida, perde apoio desde 2021 popular devido às instabilidades, discordâncias e polêmicas.

O Caso Partygate

Lehmann define o caso Partygate como um momento decisivo para a queda na popularidade dos conservadores. Na ocasião, funcionários do governo, incluindo o então premiê Boris Johnson, foram flagrados violando as regras do lockdown durante a pandemia da covid-19.

Johnson e alguns integrantes do governo realizaram festas e reuniões de novembro de 2020 a janeiro de 2021, momento em que o país estava em isolamento por causa da 2ª onda do vírus. Sunak, que na época era chanceler do Tesouro, também participou dos encontros.

“Os conservadores perderam a liderança nas pesquisas após o Partygate. Depois disso, Liz Truss ficou apenas 50 dias no governo. Rishi Sunak já assumiu em uma situação difícil, mas se vendeu como um líder confiável e que respeitaria as regras. Mas ele não conseguiu fazer isso“, explica Lehmann.

Crise no Partido Conservador

Apesar das tentativas do governo de Rishi Sunak para conquistar o eleitorado, Lehmann afirma que os britânicos estão insatisfeitos por que nada no país está melhor do que era há 14 anos. A culpa disso é frequentemente atribuída ao Partido Conservador como um todo, uma vez que a constante troca de premiês transparece uma instabilidade interna.

Os conservadores também têm disputado espaço com o emergente Reform UK, liderado por Nigel Farage, principal figura por trás da campanha do Brexit.

Em 2016, o então premiê David Cameron convocou o plebiscito do Brexit com intenção de sufocar o partido. Independente do resultado, os líderes conservadores entendiam que assim que o assunto fosse decidido, a legenda perderia força.

Entretanto, com a saída do Reino Unido da União Europeia, o partido de Farage passou a crescer entre os eleitores de direita.

Recentemente, Sunak tem proposto medidas para conquistar o público com ideologia mais à direita, que frequentemente votam no Reform UK. Em abril, o premiê propôs deportar para Ruanda todos os imigrantes que entrassem no país de maneira irregular. O Judiciário britânico considerou que asilados correriam risco de vida caso fossem enviados para o país africano, violando a CEDH (Convenção Europeia dos Direitos Humanos).

Lehmann explica que a estratégia para conquistar mais eleitores não obteve sucesso. Enquanto a maioria dos eleitores conservadores, que são de centro ou centro-direita, consideram a proposta excessiva, os anti-imigração votarão para eleger Nigel Farage.

A “radicalização” proposta por Sunak não atrai novos votantes e espanta os mais moderados. É provável que os conservadores, ao ficarem em 2º lugar no pleito, assegurem sua posição como líderes oficiais da oposição, mas terão que dividir a função com o Reform UK.

“Essas eleições estão sendo chamadas de ‘eleições de punição’ para o Partido Conservador“, define o professor Kai Enno Lehmann.

Esta reportagem foi produzida pela estagiária de jornalismo Ana Sanches Mião sob supervisão do editor-assistente Ighor Nóbrega.

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