Por Gabriela Baczynska e Elizabeth Piper
BRUXELAS (Reuters) - A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, não conseguiu acertar um acordo para o Brexit, como é conhecida a desfiliação britânica da União Europeia, com negociadores do bloco em Bruxelas nesta segunda-feira, apesar de relatos prévios de um entendimento mediante o qual a Irlanda do Norte sob controle britânico continuaria alinhada aos regulamentos da UE.
Os dois lados disseram que devem destravar as conversas sobre futuras relações comerciais nos próximos dias.
"Iremos nos recuperar antes do final da semana, e também estou confiante de que concluiremos isto positivamente", disse May após um almoço com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que também expressou confiança na superação dos obstáculos restantes.
Ele insistiu que a reunião, depois de dias de conversas intensas nos bastidores, "não foi um fracasso" e, ciente de que a UE não quer humilhar May, que está aceitando muitos de seus termos para a separação, deu crédito à premiê por fazer pé firme.
Os dois se pronunciaram depois que fontes do governo de Dublin disseram que Londres concordou em manter a Irlanda do Norte "alinhada" às regras do bloco para evitar uma "fronteira dura" com a Irlanda.
Notícias a esse respeito fizeram a libra esterlina subir devido à esperança de negociações comerciais rápidas, mas também provocaram uma resposta raivosa dos aliados de May na Irlanda do Norte, que exigem tratamento igual ao resto do Reino Unido.
O Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte (DUP) emitiu uma reiteração intransigente de sua recusa em aceitar qualquer "divergência" das regras no continente britânico.
O primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, cancelou uma coletiva de imprensa e a libra caiu quando May e Juncker surgiram para declarar que ainda não havia "progresso suficiente" nos termos do divórcio para avançar.
Varadkar disse mais tarde que ficou surpreso e desapontado com a reviravolta de May, depois que o governo britânico acordou um texto com a UE na segunda-feira que evitaria qualquer "fronteira dura" que pudesse mudar a paz no norte após décadas de violência.
Sublinhando os desafios do Brexit, a ideia de a Irlanda do Norte continuar intimamente ligada ao mercado comum da UE levou à especulação de que, para evitar novas barreiras entre Belfast e Londres, o território continental britânico teria que seguir o exemplo.
Os líderes da Escócia e de Londres, que votaram contra o Brexit, exigiram o direito de ter com a UE o mesmo relacionamento que a Irlanda do Norte – mas May descartou tal tratamento diferenciado e a permanência em uma união aduaneira ou no mercado comum.
O anúncio súbito de que não se chegou a nenhum acordo acabou rapidamente com o otimismo que havia se disseminado mais cedo nesta segunda-feira. Fontes do governo irlandês disseram que se havia acertado um pacto geral sobre as questões irlandesas.
"A frase-chave é um compromisso claro de manter o alinhamento regulatório em relação às regras da união aduaneira e do mercado interno, que são necessárias para apoiar o Acordo da Sexta-Feira Santa, a economia para toda a ilha e a fronteira", disse uma das fontes do governo irlandês.
Os temores de que uma "fronteira dura" poderia prejudicar o processo de paz no norte incentivou os dois lados a buscarem soluções.
(Reportagem adicional de Andrew MacAskill, Estelle Shirbon e Kate Holton em Londres, Alastair Macdonald, Lily Cusack e Jan Strupczewski em Bruxelas e Conor Humphries em Dublin)