Por Will Dunham
WASHINGTON (Reuters) - Cientistas anunciaram nesta segunda-feira que detectaram nas nuvens extremamente ácidas de Vênus um gás chamado fosfina que indica que micróbios podem ter habitado o vizinho inóspito da Terra, em um sinal estimulante de possível vida fora de nosso planeta.
Os pesquisadores não descobriram formas de vida propriamente ditas, mas observaram que, na Terra, a fosfina é produzida por bactérias que germinam em ambientes pobres de oxigênio. A equipe científica internacional captou a fosfina primeiramente usando o Telescópio James Clerk Maxwell do Havaí e o confirmaram graças ao radiotelescópio de milímetro/submilímetro de gama ampla do Atacama, no Chile.
"Fiquei muito surpresa -- espantada, na verdade", disse a astrônoma Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no País de Gales, a principal autora da pesquisa publicada no periódico científico Nature Astronomy.
A existência de vida extraterrestre é uma das maiores interrogações da ciência há muito tempo. Cientistas já usaram sondas e telescópios em busca de "bioassinaturas" --sinais indiretos de vida-- em outros planetas e luas do nosso sistema solar e além.
"Com o que sabemos atualmente sobre Vênus, a explicação mais plausível para a fosfina, por mais fantástico que possa parecer, é a vida", disse Clara Sousa-Silva, astrofísica molecular do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e coautora do estudo.
"Eu deveria enfatizar que a vida, como explicação para nossa descoberta, deveria ser, como sempre, a última opção", acrescentou Sousa-Silva. "Isto é importante porque, se for fosfina, e se for vida, significa que não estamos sozinhos. Também significa que a vida em si deve ser muito comum, e que deve haver muitos planetas habitados por toda a galáxia".
A fosfina --um átomo de fósforo com três átomos de hidrogênio presos a ele-- é altamente tóxica para seres humanos.
Telescópios terrestres, como aqueles usados nesta pesquisa, ajudam os cientistas a estudar a química e outras características de objetos celestiais.
A fosfina foi vista em 20 partes por bilhão na atmosfera venusiana, uma concentração residual. Greaves disse que os pesquisadores examinaram possíveis fontes não-biológicas, como vulcanismo, meteoritos, raios e vários tipos de reações químicas, mas que nenhuma pareceu viável. A pesquisa continua, seja para confirmar a presença de vida ou encontrar uma explicação alternativa.
Vênus é o vizinho planetário mais próximo da Terra e está envolto em uma atmosfera espessa e tóxica que retém calor. Alguns cientistas suspeitam que suas nuvens altas podem abrigar micróbios aéreos capazes de suportar uma acidez extrema em que os micróbios terrestre não sobreviveriam.